A questão de Jerusalém é um dos principais pontos de discórdia entre Israel e os palestinianos. O Estado hebreu considera que toda a cidade é a sua capital "indivisível" e os palestinianos anseiam fazer da zona oriental a capital do Estado a que aspiram.
Nas últimas semanas, a tensão tem vindo a aumentar num contexto da celebração do mês islâmico sagrado do Ramadão com a polícia israelita a tentar restringir concentrações de palestinianos, o que também acontece numa altura em que famílias palestinianas do bairro de Cheikh Jarrah são ameaçadas de expulsão por Israel.
Restrições policiais
Quase desde o início do mês do Ramadão, a 12 de abril, que se registaram escaramuças entre a polícia de Israel e palestinianos junto ao Portão de Damasco, um dos acessos à Cidade Velha de Jerusalém.
Em causa estava a decisão das autoridades israelitas, já anulada, de impedir os palestinianos de se concentrarem no local após a quebra de jejum do Ramadão.
Há pouco mais de duas semanas, um grupo de judeus de extrema-direita manifestou-se nas proximidades com cantos de "Morte aos árabes". Uma contramanifestação palestiniana e a intervenção da polícia deixaram mais de 120 feridos.
Despejo de palestinianos
Na noite de 3 de maio eclodiram confrontos no bairro de Cheikh Jarrah, em Jerusalém Oriental, perto da Cidade Velha, à margem de uma manifestação de apoio a famílias palestinianas ameaçadas de expulsão em benefício de colonos judeus.
Dez pessoas ficam feridas nos confrontos, segundo o Crescente Vermelho palestiniano, e dois palestinianos foram detidos pelas forças de segurança israelitas.
No início do ano, o tribunal do distrito de Jerusalém decidiu a favor das famílias judias que reivindicavam direitos de propriedade no bairro. As quatro famílias palestinianas em causa pediram ao Supremo Tribunal a possibilidade de recorrer.
Nos últimos anos, a colonização da Cisjordânia ocupada, mas também de Jerusalém Oriental, intensificou-se, com projetos imobiliários financiados pelo Governo israelita ou iniciativas de organizações de colonos para comprar casas de palestinianos ou expropriá-los, como neste caso de Cheikh Jarrah.
Apelos internacionais
Em 5 de maio, 22 palestinianos ficaram feridos em confrontos após mais uma concentração e 11 manifestantes foram detidos "por perturbar a ordem pública e agredir polícias".
No dia seguinte, Paris, Berlim, Londres, Roma e Madrid pediram a Israel para "acabar com a sua política de expansão dos colonatos nos territórios palestinianos", qualificados de "ilegais" e com as expulsões em Jerusalém Oriental.
Nessa noite, o político de extrema-direita Itamar Ben Gvir deslocou-se ao bairro de Cheikh Jarrah para apoiar os colonos judeus. Palestinianos lançaram projéteis sobre uma tenda que deveria ser o novo gabinete parlamentar de Ben Gvir.
Quinze palestinianos foram detidos após confrontos com as forças de segurança.
No dia 07, as Nações Unidas exortaram Israel a acabar com qualquer expulsão forçada de palestinianos, alertando que as suas ações podem constituir "crimes de guerra".
Confrontos na Esplanada das Mesquitas
No mesmo dia, dezenas de milhares de fiéis reuniram-se no recinto da Esplanada das Mesquitas -- designada Monte do Templo pelos judeus -- para a última grande oração de sexta-feira antes do final do Ramadão.
Segundo a polícia israelita, palestinianos lançaram projéteis contra as forças de segurança que responderam com granadas atordoantes e balas de borracha.
De acordo com o Crescente Vermelho, pelo menos 205 palestinianos ficaram feridos. A polícia deu conta de 18 feridos nas suas fileiras.
Washington apelou à descida da tensão e a "evitar" os despejos de palestinianos.
Em 8 de maio, novos confrontos causam uma centena de feridos, incluindo menores, noutros setores de Jerusalém Oriental, segundo o Crescente Vermelho palestiniano. A polícia também indicou ter registado feridos.
Os quatro membros do Quarteto para o Médio Oriente (Estados Unidos, União Europeia, Rússia e Nações Unidas) apelaram a Israel para mostrar contenção.
Adiamento da audiência sobre o despejo
Em 9 de maio, o Papa Francisco apelou ao fim dos confrontos. "A violência só gera violência", disse. O secretário-geral da ONU, António Guterres, exortou Israel a "acabar com as demolições e as expulsões".
O primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, advertiu que Israel "continuará a garantir a liberdade de culto, mas não autorizará tumultos violentos". "Faremos respeitar a lei e a ordem, com firmeza e responsabilidade", adiantou.
A Justiça israelita anunciou o adiamento de uma importante audiência, prevista para hoje, sobre o destino das famílias palestinianas ameaçadas de despejo.
À noite, o exército israelita anunciou o disparo de novos 'rockets' a partir da Faixa de Gaza, enclave palestiniano, contra o sul de Israel.
Novos confrontos
Hoje já se registaram novos confrontos na Esplanada das Mesquitas, que causaram "centenas de feridos", segundo o Crescente Vermelho.
O recomeço da violência coincide com a celebração pelos judeus do "Dia de Jerusalém", que marca a conquista da parte oriental da cidade por Israel.
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