"Qual é a vantagem de um processo destes arrancar sem discriminar à partida Estados, sem escolher uns à frente de outros, mas abrindo uma perspetiva global de arranque conjunto em termos de processo de adesão? É (...) não agravar tensões dentro da UE, não agravar tensões fora da UE, nas fronteiras, nos limites a leste da UE", apontou Marcelo Rebelo de Sousa.
O chefe de Estado reagia assim, numa conferência de imprensa conjunta com o seu homólogo esloveno, no Palácio Presidencial de Liubliana, à proposta do primeiro-ministro esloveno, Janez Jansa, que identificou o alargamento da União Europeia aos Balcãs Ocidentais como uma das prioridades da presidência eslovena, a seguir à portuguesa, manifestando a vontade de que todos os países da região aderissem "juntos e ao mesmo tempo" à UE.
Reconhecendo que sabe que "há quem tenha opiniões diversas" sobre a adesão em bloco dos países dos Balcãs Ocidentais à UE, Marcelo Rebelo de Sousa frisou que, segundo a sua experiência, é "muito importante ouvir os que vivem mais próximos dos problemas".
"Eu muitas vezes senti exatamente o mesmo relativamente à fronteira Sul da UE: falando com colegas do centro, do norte da Europa, eles não percebiam a importância do Mediterrâneo, a importância do norte de África, a importância de encontrar soluções de diálogo entre a Europa e África, até ao dia em que surgiram as migrações em massa. Portanto, é fundamental estar atento àquilo que sentem e pensam os que estão mais próximos dos problemas", adiantou.
O Presidente da República acrescentou ainda que a "Europa é uma unidade feita na diversidade" e que essa "riqueza da Europa" tem perdurado e "não tem sido um problema".
"Há debates, há pontos de vista diferentes, e depois chegamos a acordo, no equilíbrio da diversidade. Isto para afastar o argumento de que aumentar o número de Estados na Europa seria levar a diversidade a um ponto que impedisse a unidade. Já provámos que é possível haver Europa unida, com diversidade daqueles que a integram", frisou.
A seu lado, o Presidente esloveno, Borut Pahor, reconheceu também "diferenças" com alguns homólogos sobre a adesão dos países dos Balcãs Ocidentais, mas afirmou que "seria útil para a Europa" se a UE aceitasse a adesão de "toda a região".
"Não dizemos que deve ser um alargamento em pacote, com todos os Estados-membros ao mesmo tempo, mas solicitamos à Comissão Europeia para que pense nesta zona como uma região geopolítica, uma região a integrar totalmente", apontou.
Segundo Borut Pahor, uma "maior integração" destes países dos Balcãs Ocidentais permitiria "diminuir o perigo de um progresso do nacionalismo que não pensa no futuro da Europa, mas antes em alterar as fronteiras".
"Assim, pode-se diminuir a importância de reflexões, de pensamentos, de alterar as fronteiras, que temos visto ultimamente, porque se ocorrer isso, então significa que vão voltar os nacionalismos que podem desequilibrar esta parte da Europa", referiu o chefe de Estado esloveno.
O início das negociações de adesão da Macedónia do Norte e da Albânia à UE -- que estão a ser geridas em conjunto -- está bloqueado porque a Bulgária, devido a diferendos históricos e linguísticos, recusa reconhecer a língua macedónia, argumentando tratar-se de um dialeto do búlgaro.
No que se refere a outros países dos Balcãs Ocidentais que já têm o estatuto de candidato à adesão, tanto a Sérvia como o Montenegro já deram início às negociações intergovernamentais.
Marcelo Rebelo de Sousa encontra-se atualmente numa deslocação oficial à Eslovénia, tratando-se do primeiro Presidente da República a visitar o país desde Jorge Sampaio, em abril de 1999.
Esta tarde, o Presidente da República irá visitar o Castelo de Bled, a cerca de 55 quilómetros da capital eslovena.
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