Este acordo entre o Partido Democrático Unionista (DUP), defensor da manutenção na província no Reino Unido, e o Sinn Féin, favorável à reunificação com a República da Irlanda, surgiu após a meia-noite e na sequência de intensas discussões sob a égide de Brandon Lewis, o ministro britânico responsável pela Irlanda do Norte.
O unionista Paul Givan, 39 anos, um protestante fundamentalista, foi designado primeiro-ministro do Governo local no parlamento norte-irlandês, após ser designado por Edwin Poots, o novo chefe do partido unionista ultraconservador DUP.
Michelle O'Neill, 44 anos, do partido republicano Sinn Féin, ocupa de novo o cargo de vice-primeira-ministra.
Na presença de Paul Given, que após a sua nomeação sublinhou que os dois campos deverão reconhecer que "têm mais em comum do que divergências", O'Neill preveniu que os dois campos "não estão na mesma linha em relação à questão do Brexit (...) contra o qual uma maioria de cidadãos votou radicalmente" durante o referendo de 2016.
O compromisso do Governo britânico em proteger a língua irlandesa, caso não seja adotada uma legislação nesse sentido a nível local, permitiu desbloquear o impasse. O Sinn Féin colocou esta questão como prévia a um eventual prosseguimento da coabitação com os unionistas.
"Isso vai permitir ao Governo concentra-se de novo na resposta a fornecer às questões que contam verdadeiramente para os norte-irlandeses, como os cuidados de saúde, habitação, educação e emprego", indicou o ministro Brandon Lewis.
O acordo permite afastar os receios de uma nova crise, como a que paralisou a Irlanda do Norte durante três anos, na sequência da queda do Governo num contexto de um escândalo financeiro. Um acordo concluído em janeiro de 2020 permitiu restabelecer as instituições políticas da província.
O DUP e o Sinn Féin devem partilhar o poder na sequência do acordo de paz de Sexta-feira Santa de 1998, que terminou com três décadas de sangrentos "Troubles" entre republicanos (maioritariamente católicos) e unionistas (sobretudo protestantes).
A mais recente crise surgiu após a demissão, na qualidade de primeira-ministra e de chefe do DUP, de Arlene Foster, 50 anos, face ao profundo descontentamento do seu campo político sobre as consequências do 'Brexit'.
A ex-chefe de Governo foi criticada pela sua impotência face à instauração de controlos alfandegários para as mercadorias provenientes do Reino Unido, negociado no âmbito do acordo do 'Brexit' e encarado pelos unionistas como um atentado à integridade do Reino Unido.
"O protocolo é uma consequência do 'Brexit', que foi apoiado pelos conservadores e o DUP. A sua finalidade consiste em limitar o impacto do 'Brexit' na ilha da Irlanda para proteger o acordo de Sexta-feira Santa", sublinhou por sua vez Michelle O'Neill.
Ao perturbarem as trocas comerciais, estas disposições aduaneiras aplicadas à província para evitar o regresso de uma fronteira com a República da Irlanda e preservar a paz suscitaram um aumento das tensões na Irlanda do Norte.
No início de abril registaram-se tumultos sem precedentes e que não ocorriam desde há alguns anos.
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