"Da parte da Guiné-Conacri é que fecharam. O Presidente [da Guiné-Conacri, Alpha Condé] fez aquilo de uma forma unilateral. Ele há cerca de seis ou sete meses encerrou as fronteiras com a República da Serra Leoa, com a República do Senegal e com a Guiné-Bissau", afirmou, em declarações à Lusa, Umaro Sissoco Embaló.
A Guiné-Conacri decretou, a 29 de setembro de 2020, o encerramento das suas fronteiras com a Guiné-Bissau, Senegal e Serra Leoa por razões de segurança e no contexto da campanha eleitoral para as presidenciais de 18 de outubro, que acabaram por ser ganhas pelo atual Presidente, Alpha Condé, depois de alterações na Constituição, que lhe permitiram concorrer a um terceiro mandato.
Já em outubro, o ministro da Segurança e Proteção Civil da Guiné-Conacri, Damantang Albert Camará, disse ter informações "seguras e fidedignas" sobre uma suposta entrada no seu país de armas de uso militar, provenientes da Guiné-Bissau, que as autoridades de Bissau sempre recusaram.
"Ele fechou as fronteiras com aqueles três países porque pensou que estavam a apoiar o candidato Cellou Dalein Diallo. O que é caricato. Fechou de forma unilateral, o que vai contra o espírito dos acordos da CEDEAO [Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental] e da boa vizinhança", afirmou Umaro Sissoco Embaló.
Na última cimeira de chefes de Estados e de Governo da CEDEAO, a Guiné-Conacri assinou um acordo com o Senegal com vista à abertura da fronteira e já depois de ter assinado um documento semelhante com a Serra Leoa.
"Abordou a Guiné-Bissau (por interposta pessoa) e eu disse que não. Eu não fechei fronteiras. Ele é que fechou, ele é que tem de abrir. A Guiné-Bissau nunca vai negociar a abertura de fronteira com a Guiné-Conacri. Não estivemos em guerra. A fronteira da Guiné-Bissau está aberta com a Guiné-Conacri. Somos países irmãos. Quem fecha é que manda abrir", afirmou.
Questionado sobre se o assunto foi debatido no sábado na cimeira de chefes de Estado e de Governo da CEDEAO, realizada no Gana, Umaro Sissoco Embaló disse que foi debatido ao nível do Conselho de Ministros, que antecede a cimeira.
Na cimeira no sábado, Umaro Sissoco Embaló voltou a marcar a sua posição em relação à situação das fronteiras e o chefe de Estado do Gana, que assume a presidência em exercício da CEDEAO, disse que era escusado voltar ao assunto, caso contrário, teria de "o repreender".
"Eu fiz aquilo de propósito. A Guiné-Bissau nunca vai mandar negociar a abertura de fronteiras, ele é que fechou, ele é que manda abrir", explicou o Presidente guineense.
Umaro Sissoco Embaló salientou que o Presidente do Gana não lhe tirou a palavra.
"Pediu-me e disse que aquele não era o local", afirmou.
"Pediram-me, os meus colegas, para o poupar. Com Alpha Condé não há tolerância, porque pôs a Guiné-Bissau de rastos. A CEDEAO endossou-o de mediador para humilhar a Guiné-Bissau. Eu acabei com a mediação de Alpha Condé e hoje a Guiné-Bissau deixou de estar na agenda da CEDEAO e da comunidade internacional", afirmou.
Alpha Condé foi o mediador da CEDEAO para a crise política na Guiné-Bissau no âmbito dos acordos de Bissau e de Conacri.
Alpha Condé, de 82 anos, ganhou um controverso terceiro mandato presidencial, que ficou marcado por confrontos que provocaram a morte a dezenas de pessoas.
O Presidente da Guiné-Bissau foi uma das vozes críticas da candidatura de Alpha Condé a um terceiro mandato na Guiné-Conacri, tendo mesmo chegado a acusá-lo de "estar a tentar um golpe de Estado".
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