Uma proposta de cimeira com Putin não pode surgir de surpresa, diz Costa
O primeiro-ministro, António Costa, disse hoje compreender a rejeição pelo Conselho Europeu da proposta franco-alemã de uma cimeira UE-Rússia porque, numa matéria tão sensível, as propostas não devem surgir de surpresa, sem debate nem articulação entre os 27.
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Mundo UE/Cimeira
Em declarações aos jornalistas depois de um Conselho Europeu, em Bruxelas, que entrou pela madrugada dentro, entre quinta-feira e hoje, devido a uma longa discussão entre os 27 sobre a proposta de Berlim e Paris de uma cimeira com o Presidente russo, Vladimir Putin, que acabou por não colher o apoio dos restantes líderes, Costa começou por salientar que "o Conselho tem uma posição unida" sobre a Rússia.
De acordo com o primeiro-ministro, todos os Estados-membros concordam com os cinco princípios adotados para nortear as relações da UE com Moscovo e todos partilham a ideia de que, sendo a Rússia o principal vizinho do bloco europeu, "é do interesse mútuo que essa vizinhança seja uma vizinhança pacífica e, mais do que pacífica, cooperativa e que se desenvolva de uma forma positiva".
"E, nesse sentido, vários Estados-membros têm feito propostas no sentido de se poderem desenvolver diligências que permitam efetivamente ultrapassar a atual fase de relacionamento entre a União Europeia e a Rússia. Sobre isto tudo há consenso", afirmou.
Costa criticou, todavia, a forma como esta proposta em concreto foi acertada - entre a chanceler alemã, Angela Merkel, e o Presidente francês, Emmanuel Macron -, afirmando-se mesmo convicto de que, além da questão de fundo em torno da melhor forma de prosseguir o relacionamento com Moscovo, a mesma foi rejeitada pela forma como surgiu.
"Eu diria que quando se quer apresentar propostas desta importância é necessário fazer uma preparação desse trabalho, é necessário procurar agregar vontades, tendo em conta que nem todos estamos à mesma distância geográfica de Moscovo, nem todos temos a mesma história relativamente à Rússia, e nem todos temos o mesmo tipo de contencioso com a Rússia", observou.
O chefe de Governo enfatizou que, em matérias tão complexas, as propostas "não podem e não devem surgir de surpresa, sem preparação prévia, sem debate devido, sem a devida articulação".
"E, sobretudo, depois de uma semana em que houve uma reunião de ministros dos Negócios Estrangeiros e uma reunião de secretários de Estado dos Assuntos Europeus -- na segunda e terça-feira passadas, no Luxemburgo -, aparecer de supetão uma proposta não cria boas condições para que seja bem acolhida", disse.
O Kremlin disse hoje ter tomado conhecimento "com pesar" da rejeição da União Europeia à ideia da França e Alemanha de relançar o diálogo com a Rússia através de uma cimeira com Vladimir Putin.
"O Presidente Putin é, geralmente, a favor do estabelecimento de relações de trabalho entre Moscovo e Bruxelas. Sabemos que uma série de países se opõe a este diálogo e sabemos que se trata sobretudo de 'jovens' europeus, os Estados bálticos, a Polónia... E que são estes mesmo países que falam sem fundamento de ameaças vindas da Rússia", disse o porta-voz da presidência russa, Dmitri Peskov.
Uma semana depois do encontro organizado em Genebra entre o Presidente russo e o homólogo norte-americano, Joe Biden, Merkel e Macron propuseram aos seus homólogos europeus a celebração de um encontro com Vladimir Putin para tratar de assuntos de interesse para a UE, mas, ao cabo de várias horas de reunião, o Conselho Europeu decidiu apenas que "irá explorar formatos e condicionalidades do diálogo com a Rússia", tal como consta das conclusões adotadas.
As relações entre a UE e a Rússia têm-se deteriorado constantemente desde a anexação da Crimeia e o início do conflito com a Ucrânia, em 2014, e desde então não foi realizada qualquer cimeira entre as partes.
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