Os professores referem que, se forem para Macomia, ficam expostos "como escudos de guerra", relata Manuel Alberto, docente naquele distrito, atualmente deslocado em Pemba, capital provincial.
"No ano passado os insurgentes entraram na presença das Forças de Defesa e Segurança (FDS)", refere, recordando a ocupação da vila, em maio de 2020.
Para o docente, "era bom que [as autoridades] esperassem até a situação voltar à normalidade para reabrir", as escolas, "mesmo que seja só no próximo ano", até porque quem está em Macomia "dorme na mata", descreve Manuel Alberto.
E questiona: como pode um professor planificar aulas em tais condições, a viver com medo de ser decapitado?
Em causa, está uma decisão do Serviço Distrital de Educação, Juventude e Tecnologia, assente num comunicado publicado em março, a pedir o regresso de todos os professores primários para as suas escolas, alegando haver segurança.
Só que a realidade é diferente, contam os docentes.
"Há disparos", relata Isaura dos Santos, professora em Macomia há mais de cinco anos, agora alojada em Pemba, mas que continua a receber informações sobre focos de insegurança que persistem nas últimas semanas.
"Há colegas que só estão lá porque não têm dinheiro para transporte", descreve, referindo que até "alguns chefes [de bairro] fugiram".
Cripton Dias, outro professor, teme a infiltração de "terroristas" nas escolas, visto que, agora, devido à debandada generalizada da população, os alunos são desconhecidos.
"Não são aqueles alunos que conhecíamos" e "o professor tem dúvidas se está a ensinar o inimigo ou não", disse.
Para ele, o pedido de regresso a uma zona sob ameaça pretende justificar a atribuição de fundos para o setor da educação, sem que haja outros serviços a funcionar.
Manuel Alberto diz que o professor não poder ser "o único funcionário público" a regressar a Macomia.
E Isaura acrescenta: "Se o distrito decidiu isso [regresso às aulas] temos de voltar todos, porque o professor não pega arma", concluiu.
A Lusa tentou obter esclarecimentos dos serviços de educação, mas sem obter respostas.
Grupos armados aterrorizam a província desde 2017, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo 'jihadista' Estado Islâmico, numa onda de violência que já provocou mais de 2.800 mortes segundo o projeto de registo de conflitos ACLED e 732.000 deslocados de acordo com a ONU.
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