"O regime autoritário não vai durar sempre, mas por enquanto conserva o apoio das Forças Armadas e dos serviços de informação", disse à Lusa Malamud, num depoimento escrito, comentando a crise social que se vive em Cuba, ilustrada pela histórica manifestação de protesto contra o regime, no passado domingo, fortemente reprimida pelas forças de segurança.
O investigador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa lembra ainda a dependência que o regime cubano mantém com a Venezuela, de Nicolas Maduro, que fornece petróleo a troco de apoio internacional perante a igualmente grave crise que se vive naquele país da América do Sul.
Andrés Malamud atribui a essa ajuda energética uma outra das razões da sobrevivência do regime cubano, que está economicamente isolado, em parte devido às prolongadas sanções impostas pelos Estados Unidos.
Para este investigador, que foi membro do comité executivo da Associação Latino-Americana de Ciência Política, as causas da atual crise em Cuba residem em vários fatores concorrentes.
Por um lado, o colapso sanitário, provocado pela pandemia de covid-19, que está a afetar gravemente o país, com a população a queixar-se da falta de uma estratégia eficaz para travar a rápida propagação do novo coronavírus, agravada pela falta de medicamentos.
A esta crise sanitária soma-se a crise económica, diz Andrés Malamud, referindo a queda das receitas provenientes do turismo e a unificação cambial.
Mas o investigador salienta dois outros fatores, político e tecnológico: a morte dos líderes históricos, como Fidel Castro, e a existência de redes sociais que permitem a coordenação dos protestos, o que ajuda a explicar que a ilha tenha sofrido um corte na transmissão de dados móveis.
"Sem recursos materiais (por causa da crise), nem simbólicos (por razões biológicas), ao regime só fica a repressão: proibição das expressões culturais, prisão para os dissidentes, apagão da Internet", conclui Andrés Malamud.
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