"Não há uma solução militar para a crise" que o Afeganistão atravessa desde que os talibãs tomaram o poder em Cabul em 15 de agosto e a retirada gradual das tropas norte-americanas do país, disse o porta-voz dos Negócios Estrangeiros do Irão, Saïd Khatibzadeh, durante uma conferência de imprensa transmitida pela televisão.
"Todos os grupos e todos os campos políticos devem abster-se de recorrer à força e engajar-se no caminho da negociação e do diálogo", acrescentou o porta-voz, referindo ainda que "a República Islâmica do Irão mantém um canal permanente de comunicação com todos os campos políticos no Afeganistão".
O Irão "espera que o povo (...) e os diferentes grupos [afegãos] aproveitem a oportunidade da retirada das forças estrangeiras para estabelecer um governo (...) representativo da diversidade [do país] e que manterá laços amigáveis com os seus vizinhos", disse Khatibzadeh.
Desde o seu retorno ao poder em Cabul, em 15 de agosto, os talibãs têm tentado convencer a população de que mudaram e de que o seu regime será menos brutal que o anterior, que vigorou entre 1996 e 2001.
Entretanto, a população não acredita na mudança e desejam deixar o país, o que é evidenciado pelas cenas de caos observadas nos últimos dias no aeroporto de Cabul.
De orientação xiita, a República Islâmica do Irão compartilha uma fronteira de mais de 900 quilómetros com o Afeganistão e teve uma relação conflituosa com os talibãs durante o seu governo anterior, que Teerão nunca reconheceu.
O Governo de Teerão, no entanto, parece ter esboçado uma reaproximação com essa milícia sunita há vários meses em nome do pragmatismo.
De acordo com o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), a República Islâmica já está a acolheu mais de 3,46 milhões de afegãos em seu território, a grande maioria deles refugiados ou ilegais.
Pressionado por jornalistas para dizer quantos refugiados afegãos entraram no Irão recentemente, Khatibzadeh evitou o assunto.
A entrada das forças talibãs em Cabul, em 15 de agosto, pôs fim a uma campanha militar de duas décadas liderada pelos Estados Unidos e apoiada pelos seus aliados, incluindo Portugal.
As forças de segurança afegãs, treinadas pelos militares estrangeiros, colapsaram antes da entrada dos talibãs na cidade de Cabul.
Milhares de afegãos, em Cabul, tentam fugir do país e muitos dirigiram-se para o aeroporto internacional onde a situação continua caótica.
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