Numa declaração conjunta, a representante especial do secretário-geral da ONU para as Crianças e Conflitos Armados, Virginia Gamba, e a representante especial para a Violência contra as Crianças, Najat Maala M'jid, condenaram os "horríveis e mortais ataques contra o aeroporto de Cabul, no qual terão sido mortas e mutiladas crianças", expressando "as mais profundas condolências" às vítimas e ao povo afegão.
"Os atuais contextos políticos e de segurança não devem apagar o progresso dos direitos humanos, incluindo os das crianças e mulheres. Exortamos os talibãs e outros partidos a respeitar a dignidade e os direitos humanos de todos os afegãos, incluindo rapazes e raparigas. Assegurar a proteção das crianças contra os danos e incluir as suas vozes e necessidades é fundamental para a paz e o desenvolvimento sustentáveis no Afeganistão", vincaram os responsáveis.
As duas representantes recordam aos talibãs que estão "vinculados a todas as normas internacionais com as quais o Afeganistão já se comprometeu para a proteção das crianças".
Além disso, demonstraram preocupação com os direitos das raparigas, incluindo a violência sexual e baseada no género, referindo que o direito à educação das mulheres deve continuar a ser respeitado e protegido de ameaças.
Segundo o comunicado, a primeira metade do ano testemunhou "um número alarmante de violações graves cometidas contra crianças", o que levou os funcionários a instar os talibãs a garantir o respeito e proteção da ajuda humanitária, num país onde "10 milhões de crianças" precisam dessa ajuda para "sobreviver no terreno".
"Proteger os direitos de todos os afegãos, incluindo os direitos das crianças, é a única solução sustentável para a paz", finaliza a declaração.
No documento, a ONU referiu que o Conselho de Segurança identificou seis violações graves contra crianças: recrutamento e utilização, assassínio e mutilação, violação ou outras formas de violência sexual, ataques a escolas e hospitais, raptos e negação de acesso humanitário para crianças.
Os talibãs conquistaram Cabul em 15 de agosto, concluindo uma ofensiva iniciada em maio, quando começou a retirada das forças militares norte-americanas e da NATO.
As forças internacionais estavam no país desde 2001, no âmbito da ofensiva liderada pelos Estados Unidos contra o regime extremista (1996-2001), que acolhia no território o líder da Al-Qaida, Osama bin Laden, principal responsável pelos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001.
A tomada da capital pôs fim a uma presença militar estrangeira de 20 anos no Afeganistão, dos Estados Unidos e aliados na NATO, incluindo Portugal.
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