"Por enquanto, e tudo isto precisa de ser verificado e confirmado, não houve uma mudança drástica e isso é uma coisa boa", declarou o diplomata, durante uma intervenção na subcomissão de Direitos Humanos e na comissão de Direitos da Mulher e Igualdade de Género do Parlamento Europeu.
Nesse sentido, indicou que os talibãs afirmaram que as mulheres poderão continuar a trabalhar e a viajar "sem um acompanhante masculino".
Von Brandt acrescentou que o principal porta-voz dos talibãs, Zabihullah Mujahid, "surpreendeu quando reconheceu que as mulheres deveriam permanecer temporariamente em casa para sua própria segurança, porque provavelmente não se poderia confiar que muitos nas fileiras dos talibãs tratassem as mulheres cortesmente e necessitavam de receber mais educação".
"Mas também é claro que os talibãs fizeram declarações semelhantes em 1996, durante a sua primeira vez no poder", admitiu o diplomata.
Constatou igualmente que na comunicação social estão a surgir informações sobre a separação dos estudantes por género, sobre as mulheres serem transportadas em autocarros com os vidros pintados ou sobre vestirem roupa de determinadas cores.
"Tudo isto são informações preliminares e esboços de projetos de lei e não só devemos ver como se desenrolam os acontecimentos, como também devemos assegurar que as forças moderadas e modernas nos talibãs prevalecem", sustentou.
Entre os acontecimentos negativos, o embaixador da UE referiu que, à medida que os talibãs avançavam pelo país, iam encerrando os edifícios onde as mulheres podiam ir para pedir proteção contra a violência de género.
"O que vou dizer agora não é uma desculpa para os talibãs ou para nós, mas apenas uma realidade, porque muitos destes problemas existiram sem os talibãs", comentou, precisando que ocorreram também durante a ocupação estrangeira desde 2001.
"Os assassínios por honra, os casamentos infantis, o pagamento por mulheres, conhecem todos esses pormenores, mas quero mencioná-los porque não é uma coisa que tenha mudado agora de maneira drástica nos últimos dias", frisou.
Por isso, instou a que se trate os talibãs "não pelo que disseram há 25 anos", mas que "se olhe para o que está a acontecer agora".
"Com razão, se fosse uma mulher no Afeganistão, provavelmente ir-me-ia embora de imediato e teria o mesmo nível de ansiedade, mas a maior parte do que se está a passar agora assenta no medo do que está para vir. Não percamos de vista o que ainda não está a acontecer", sustentou.
Sobre o fracasso da operação ocidental, disse que "provavelmente se centrou demasiado na elite urbana", em contraste com o modo de vida das mulheres em zonas rurais, que não mudou assim tanto.
"Podemos ter subestimado o clima conservador profundamente arreigado no país", afirmou, embora considerando que houve melhorias nos últimos anos.
A presidente da Comissão de Direitos Humanos do Afeganistão, Shaharzad Akbar, defendeu que a ONU crie um mecanismo para investigar e documentar as violações dos direitos humanos da população afegã perpetradas pelos talibãs.
Também sublinhou que houve ativistas, defensores dos direitos humanos, artistas e jornalistas que não conseguiram abandonar o país após a chegada ao poder dos talibãs, a 15 de agosto.
"Pensam que o mundo se esqueceu deles, porque não veem ações suficientes e passos concretos para permitir a sua saída em segurança do Afeganistão", declarou.
A responsável disse também que, apesar das palavras dos talibãs, recebe informações sobre execuções sumárias, buscas de pessoas porta a porta, detenções ilegais e restrições infligidas às mulheres.
"As ações dos talibãs não estão alinhadas com as suas promessas", afirmou e pediu para que não se dê apoio ao Governo dos "estudantes de teologia" e se continue a apoiar quem quer sair do Afeganistão.
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