Francisco, que falava com a imprensa durante a viagem de regresso a Roma após visitas à Hungria e Eslováquia, lembrou que, no seu discurso às autoridades eslovacas, falou da necessidade de uma Europa "solidária" para que possa "voltar a ser o centro da história".
"A UE não pode ser apenas ter reuniões para realizar coisas. Há um espírito que está na base da UE. Não pode ser apenas um escritório de gestão. Tem de ir apropriadamente à mística, procurar as raízes da Europa e levá-las adiante", sustentou Francisco.
O Papa criticou também a existência de "alguns interesses, talvez não europeus, que tentam usar a UE para ideologias de colonizações".
No seu principal discurso na Eslováquia, o Papa pediu "fraternidade" e "solidariedade" na Europa, numa época em que, "após meses extremamente duros de pandemia, há, junto com muitas dificuldades, uma tão esperada reativação económica, favorecida por planos de recuperação da União Europeia".
Por outro lado, na conversa com os jornalistas, Francisco defendeu que os bispos católicos devem falar com os políticos que apoiam o aborto com "compaixão e ternura e não com condenação", e advertiu que não devem deixar a política entrar em questões sobre o recebimento da comunhão.
Francisco respondia a uma questão relacionada com o debate na Igreja dos Estados Unidos sobre se deve ser negada a comunhão ao Presidente norte-americano, Joe Biden, e a outros políticos, por causa das suas posições sobre o aborto.
Os bispos norte-americanos concordaram em redigir um "documento de ensino" que muitos deles esperam que repreenda os políticos católicos, incluindo Biden, por receberem a comunhão, apesar de seu apoio aos direitos ao aborto.
Francisco escusou-se, no entanto, a tomar uma posição concreta sobre a questão, alegando que não conhece suficientemente bem o caso.
No entanto, o Papa repetiu que o aborto é um "homicídio" e que os padres católicos não podem dar a eucaristia a alguém que não está em comunhão com a Igreja, exemplificando com o caso de um judeu ou de alguém que não foi batizado ou que se afastou da igreja.
O mais importante, disse, é que os padres e os bispos devem responder pastoralmente e não politicamente a qualquer problema que surja diante deles.
Por outro lado, Francisco voltou a mostrar-se favorável às leis civis para defender os direitos dos homossexuais, mas não o casamento que, para a Igreja, é a união entre um homem e uma mulher.
"Tenho falado com clareza sobre isso. O casamento é um sacramento da Igreja e não pode ser mudado, mas existem leis que tentam ajudar a situação de tantas pessoas de diferentes orientações sexuais e isso é importante. Que sejam ajudadas, mas sem impor à Igreja coisas que por natureza não podem ser", afirmou.
Francisco também destacou que, se um casal homossexual quiser levar uma vida em conjunto, os Estados têm a possibilidade de apoiá-los civilmente, como em questões de saúde e de herança.
O Papa já havia expressado essa posição num documentário recente, mas, pouco depois, o Vaticano publicou uma nota explicativa para lembrar que a Igreja católica "não pode dar a sua bênção às uniões de pessoas do mesmo sexo", depois de, nalguns círculos eclesiásticos, terem surgido dúvidas sobre o assunto.
Outro tema abordado por Francisco foi a questão ligada à posição favorável que tem em relação à vacinação contra a covid-19.
"Quando éramos crianças e nos davam vacinas, ninguém dizia nada. É um pouco estranho [que agora as pessoas não queiram ser vacinadas] quando temos uma longa história de vacinações [contra doenças] como pólio ou sarampo", referiu.
Admitindo que os negacionistas "talvez se tenham deixado arrastar pela incerteza" e pela grande diversidade de vacinas, "algumas com fama de serem até água destilada" ou ainda pela falsa notícia de que inoculavam o vírus, Francisco reconheceu que também há quem assim pense no colégio cardinalício.
"Têm de ser esclarecidos e de se lhes falar com serenidade. No Vaticano, todos nós fomos vacinados, exceto um pequeno grupo a quem estamos a estudar a forma de ajudar", revelou.
O Papa já fez vários apelos para que as pessoas sejam vacinadas contra o coronavírus, considerando-o "um ato de amor".
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