Começou esta sexta-feira no tribunal de Viena a audição do primeiro processo civil devido a um surto de Covid-19 numa popular estação de ski no ano passado, onde milhares de pessoas de 45 países afirmam ter sido infetadas.
Este caso é o primeiro de 15 processos movidos por habitantes da Áustria e da Alemanha, que acusam as autoridades de não terem respondido com rapidez suficiente aos surtos de novo coronavírus em Ischgl e outros resorts na província de Tirol.
Trata-se do caso apresentado em nome de Sieglinde Schopf e do filho Ulrich, viúva e filho, respetivamente, de Hannes Schopf, de 72 anos, que morreu após contrair o vírus em Ischgl, de acordo com a AFP.
Sieglinde não esteve hoje presente no Palácio da Justiça de Viena, mas Ulrich sentou-se ao lado da equipa jurídica que apresentou o caso, perante o interesse de vários meios de comunicação social. O advogado Alexander Klauser, representando a família Schopf, referiu que as deficiências oficiais que permitiram que Ischgl e a área circundante se tornassem um 'hotspot' do vírus eram várias.
Expôs um relatório de outubro do ano passado, onde uma comissão independente de peritos constatou que as autoridades locais "reagiram tarde demais" e cometeram "erros graves" quando alertados pela Islândia, a 5 de março, de que vários dos seus cidadãos tinham testado positivo no regresso ao país. Perderam a oportunidade de evitar que mais turistas fossem ao local naquele fim de semana e o governo regional chegou a duvidar se os turistas islandeses tinham sido infetados em Ischgl, disse.
O advogado também acusou as autoridades locais de fazerem "muito pouco, tarde demaias", quando um funcionário do restaurante da estância deu positivo para a Covid-19.
Quando foi finalmente colocada em quarentena, uma evacuação ordenada foi "frustrada" pela forma caótica como foi anunciada e organizada, disse Klauser, apontando o dedo ao chanceler austríaco Sebastian Kurz também.
Segundo a viúva de Schopf, o jornalista reformado e ávido esquiador contraiu o vírus durante a evacuação no autocarro lotado de outros turistas que espirravam e tossiam. A família Schopf está a processar a República da Áustria em 100 mil euros pela sua morte.
"O que as partes civis querem é que a República da Áustria admita a sua responsabilidade - até agora não tivemos nenhum sinal disso", explicou Klauser. Essa recusa "prolonga" o sofrimento dos parentes, insistiu o advogado.
A audiência começou às 10h00 locais (09h00 em Lisboa), iniciando uma maratona judicial de casos que ainda estão a ser apresentados à justiça.
Entre os milhares de pessoas afetadas, cerca de 5% sofreram com sintomas prolongados da Covid-19, como dores de cabeça, distúrbios do sono e falta de ar, e morreram 32 pessoas, segundo a associação de consumidores VSV, que reúne os processos.
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