Em fuga desde 2017 devido ao seu papel na tentativa falhada de independência da região espanhola da Catalunha, Carles Puigdemont continua a ser procurado pelo sistema judicial espanhol, que o acusa de "sedição" e "apropriação indevida de fundos públicos".
Contactado esta manhã pela agência francesa AFP, o seu advogado, Gonzalo Boye, disse que Puigdemont tinha passado a noite na prisão de Sassari, onde um juiz deverá ouvi-lo.
Mas "ainda não sabemos" se a audiência perante o tribunal de recurso de Sassari "terá lugar hoje ou amanhã", sábado, acrescentou, embora o chefe de gabinete de Puigdemont, Josep Lluis Alay, tivesse dito na quinta-feira à noite que a audiência teria lugar na sexta-feira.
Carles Puigdemont, 58 anos, foi preso na noite de quinta-feira à sua chegada a Alghero, uma cidade da Sardenha que culturalmente está próximo da Catalunha, onde deveria participar num festival cultural e encontrar-se com representantes eleitos da ilha italiana.
O novo presidente regional da Catalunha, Pere Aragonès, também um separatista, mas de tendência mais moderada que Puigdemont, condenou, na rede social Twitter, "a perseguição e esta repressão judicial".
"Já chega. A amnistia é a única forma. A autodeterminação é a única solução. Ao teu lado, Carles", disse Aragonès.
Por seu lado, o Governo espanhol considera que a detenção do antigo presidente da Generalitat (governo regional catalão) obedece a um processo judicial em curso, e como qualquer outro cidadão europeu, deve submeter-se à ação da justiça.
O executivo espanhol publicou uma declaração de madrugada, na qual sublinha que a detenção é uma consequência do processo judicial aberto, "que se aplica a qualquer cidadão da União Europeia que deve responder pelos seus atos perante os tribunais".
Madrid manifestou o seu respeito pelas decisões das autoridades e tribunais italianos e insistiu que "Puigdemont deve submeter-se à ação da justiça exatamente da mesma forma que qualquer outro cidadão".
Hoje de manhã, dia feriado na Catalunha, várias centenas de ativistas pró-independência manifestaram-se no exterior do consulado italiano em Barcelona para denunciar a detenção de Carles Puigdemont.
O líder independentista já tinha sido preso na Alemanha em março de 2018, a pedido de Espanha, mas foi libertado alguns dias depois de os tribunais alemães terem retirado a acusação de "rebelião" contra ele, que desde então foi reclassificada como "sedição".
Membro do Parlamento Europeu desde 2019, o ativista pró-independência recebeu, durante algum tempo, a imunidade parlamentar, mas o Parlamento Europeu levantou esta imunidade a 09 de março último, por uma grande maioria, medida que foi confirmada a 30 de julho pelo Tribunal da União Europeia.
A decisão do Parlamento Europeu foi objeto de recurso e espera-se uma decisão final pelo tribunal da UE "numa data posterior".
O advogado de Puigdemont defende que a decisão do Parlamento Europeu está "suspensa" e que o seu cliente deve continuar a gozar da sua imunidade.
Alguns observadores receiam que esta detenção de Carles Puigdemont aumente o risco de uma nova crise entre Madrid e o movimento independentista na região autónoma, numa altura de relativo desanuviamento entre as duas partes.
O Governo de Pedro Sánchez concedeu indultos em junho passado aos nove líderes independentistas que foram detidos em 2017 e condenados à prisão em 2019, depois de um julgamento histórico em que Puigdemont foi o principal ausente.
Entretanto, o Governo espanhol retomou as negociações com o governo separatista regional a 15 de setembro último para encontrar uma saída para a crise separatista na Catalunha.
A tentativa de autodeterminação da Catalunha em outubro de 2017 foi uma das piores crises que a Espanha viveu desde o fim da ditadura de Franco, em 1975.
O governo regional liderado pelo Puigdemont realizou um referendo sobre a autodeterminação em 01 de outubro de 2017, que foi marcado por violência policial e seguido, algumas semanas mais tarde, por uma declaração de independência.
O Governo espanhol, na altura liderado pelo Partido Popular (direita), colocou a região sob tutela e prendeu os principais líderes do movimento que não tinham fugido para o estrangeiro.
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