Cabo Verde deteta dois focos da praga dos mil pés em Santiago

Dois focos dos mil pés foram detetados na ilha de Santiago, praga que levou ao embargo de produtos agrícolas de Santo Antão desde 1984, anunciou hoje o ministro da Agricultura e Ambiente cabo-verdiano.

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Lusa
04/10/2021 14:15 ‧ 04/10/2021 por Lusa

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Cabo Verde

"O Ministério da Agricultura e Ambiente acaba de confirmar a existência de dois focos dos mil pés na ilha de Santiago, numa casa no Tarrafal e noutra na Praia. Os dois focos estão interligados, já que as casas pertencem ao mesmo dono", anunciou o ministro.

Em conferência de imprensa, na cidade da Praia, Gilberto Silva deu conta que os especialistas fitossanitários visitaram o local, recolheram as amostras e identificaram a praga em jardins das duas casas, e não em terrenos agrícolas.

"Trata-se de uma situação muito séria, anormal, muito preocupante, pelo que, à semelhança do que aconteceu em 2013, o ministério tudo fará para, de imediato, circunscrever aqueles focos, eliminar a praga e fazer de tudo para que a situação volte a normalidade", perspetivou.

Por isso, avançou que já está em curso um plano operacional, que consiste na destruição das plantas nessas casas e o tratamento fitossanitário de todo o espaço envolvente, com produtos químicos e a quarentena de toda a zona onde a praga foi identificada.

"Esta é uma medida profilática, ou seja, a proibição também da movimentação da terra, da deslocação e circulação de plantas para outras localidades nos concelhos e fora dela", prosseguiu o ministro, indicando que o ministério vai fazer uma prospeção "muito mais abrangente" em toda a ilha de Santiago, a maior de Cabo Verde.

Segundo o governante, o plano operacional consiste ainda no reforço do sistema de inspeção, sobretudo nos portos e aeroportos, e também a sensibilização e informação de todos os cidadãos e da sociedade no geral sobre os mil pés.

Gilberto Silva garantiu que o Governo e as outras autoridades cabo-verdianas tudo farão para que a praga não atinja outras localidades e terrenos agrícolas e apelou a toda a sociedade a colaborar no sentido de transmitir a informação correta e impedir que a praga se propague.

Questionado sobre a origem e sua quantidade desses dois focos, o ministro respondeu que ainda é cedo para dizer com segurança como e quando entrou na ilha de Santiago, sendo uma matéria que vai ser investigada.

"Os técnicos hão de trabalhar no sentido de ver o que é mais importante, mais premente agora, é a circunscrição dos focos e a eliminação não só da praga, mas das condições que favoreceriam a manutenção da praga nestes focos", apontou.

Os mil pés, uma espécie de centopeia, mas com muitos mais pés, que comem plantas, tubérculos e raízes, são conhecidos na ilha de Santo Antão desde os anos 70, quando começaram a dar nas vistas no vale da Ribeira Grande, zona de agricultura de irrigação.

Mas há 37 anos tomaram a proporção de uma praga de tal ordem que as autoridades não tiveram outro remédio senão proibir a exportação de produtos agrícolas de Santo Antão, deixando apenas que chegassem à vizinha ilha de S. Vicente.

Em 2013, surgiu um foco em São Nicolau, mas que está completamente controlado.

O ministro disse que, para já esses dois focos não justifiquem outra medida que não seja o controlo e a vigilância epidemiológica, descartando por isso o embargo de produtos agrícolas da ilha de Santiago.

Quanto à ilha de Santo Antão, disse que não há razões para o levantamento do embargo, explicando que as condições que levaram ao impedimento da exportação ainda se mantém, embora os agricultores contestam a medida, pedindo o embargo por zonas mais afetadas.

"Agora, com o surgimento desses focos na ilha de Santiago, e poderia acontecer noutra ilha, leva-nos todos a refletir mais e dizer: é necessário reforçarmos as medidas de prevenção, para não estarmos a pôr em causa a agricultura nas outras ilhas onde não há a praga", salientou.

Na ilha de Santo Antão, a mais a norte do arquipélago, Gilberto Silva disse que se deve continuar o trabalho de controlo da praga, já que estudos indicam que não vai ser possível a sua completa eliminação, mas também apostar numa agricultura adaptada e na transformação dos produtos.

"Esta é a estratégia que nós devemos adotar, em vez de nós continuarmos sempre a defender o levantamento do embargo. Seria bom que nós conseguíssemos levantar o embargo, mas melhor ainda se nós impedíssemos que a praga atingisse outras ilhas", referiu.

O ministro relembrou ainda um protocolo assinado entre o Governo de Cabo Verde, a FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura) e a China para um projeto de combate a praga dos mil pés, acreditando que vai dar uma "boa contribuição", sobretudo na investigação, e com ações concretas para controlo desses bichos.

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