O Fórum de Paris para a Paz foi o palco deste apelo que deixou claro que a crise de saúde exacerbou desigualdades existentes e ameaçou avanços obtidos em matéria de igualdade de género.
"Este é um momento crucial. Se nos unirmos, não há desafio demasiado grande", disse Harris, na abertura deste encontro multilateral cuja quarta edição decorre até sábado e que, após anos de boicote da Administração de Donald Trump, conta pela primeira vez com um alto representante norte-americano.
"Estou muito contente por ter os Estados Unidos de volta ao clube multilateral", disse, por seu lado, Macron, pedindo para que se acelere a doação de vacinas e se reforce tanto os sistemas de saúde dos países mais frágeis como a transparência dessas doações.
O fórum foi criado em 2018 como plataforma na qual chefes de Estado e de Governo, empresários e representantes da sociedade civil pudessem debater os desafios do momento e promover soluções.
No ano passado, centrou-se nas necessidades iminentes criadas pela crise sanitária e, este ano, pôs a tónica nas fraturas que a pandemia provocou ou evidenciou, tanto em matéria económica como social ou digital.
A vice-presidente norte-americana instou a que "se desafie o 'statu quo'" e atue de forma conjunta a nível global para ultrapassar a pandemia de covid-19, de forma a que possam reduzir-se as atuais desigualdades.
"Enquanto recuperamos desta pandemia, devemos desafiar o 'statu quo' e construir algo melhor. A nossa segurança, a nossa saúde e a nossa prosperidade dependem da superação das desigualdades existentes", disse Harris na abertura do Fórum de Paris para a Paz.
A sua intervenção, a primeira de um representante norte-americano neste encontro multilateral, sublinhou que os avanços até agora efetuados em áreas como a igualdade de género estão ameaçados.
"No século XXI, combater a desigualdade é um imperativo para todos", acrescentou a vice-presidente, deixando claro que "nenhuma nação pode fazê-lo sozinha".
A sessão de abertura do encontro reuniu hoje na capital francesa chefes de Estado e de Governo de cerca de 30 países que, presencialmente ou à distância, expressaram através das distintas intervenções que os esforços até agora feitos são insuficientes para construir um mundo mais justo.
"Devemos olhar de forma crítica para sistemas fracassados e consertá-los. Em primeiro lugar, atuando em casa", acrescentou Harris, frisando que a solidariedade não é uma questão de caridade, mas que é "um dever".
A história "está cheia de líderes que recusam aceitar o 'statu quo', que agem, e que por isso mudam o nosso mundo", acrescentou a vice-presidente dos Estados Unidos, segundo a qual embora sempre tenha havido um fosso entre ricos e pobres ou em matéria de igualdade de género, a pandemia agudizou-as e essa desigualdade crescente "é inaceitável".
A pandemia de coronavírus SARS-CoV-2 "acabará quando o mundo decidir que termina", mas "falta vontade política", sustentou o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Ghebreysus, acrescentando que o principal é que as vacinas cheguem aos países que não têm as suficientes, sobretudo em África.
Os compromissos alcançados nestes dias não são vinculativos, mas o facto de se juntar no mesmo local, neste caso o espaço La Villette de Paris, atores diversos com poder de decisão contribui para debater a mudança pretendida.
A necessidade de uma ação conjunta concentrou-se também no mundo digital e conseguiu o apoio dos Estados Unidos para o Apelo de Paris para a confiança e a segurança no ciberespaço, lançado a 12 de novembro de 2018.
"Creio firmemente que deve haver consequências quando a segurança e a estabilidade estão ameaçadas no ciberespaço", defendeu Harris, ao anunciar o seu apoio a essa declaração de alto nível em favor da elaboração de princípios comuns para dotar de maior segurança o espaço digital.
Deste fórum, que continuará hoje à noite no Palácio do Eliseu com um jantar de honra com os participantes, espera-se ainda um compromisso internacional que fomente a redução do lixo espacial.
"Num mundo que está mais interligado e que é mais interdependente que nunca, avancemos juntos", acrescentou a vice-presidente norte-americana, cuja presença em Paris reforça o fim da crise com a França desencadeada quando, em setembro, a Austrália cancelou um contrato de aquisição de submarinos franceses e decidiu, em vez disso, comprá-los aos Estados Unidos.
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