"O Canadá está preocupado com a rápida deterioração da situação de segurança na Etiópia. Estamos agora a pedir aos canadianos que deixem o país imediatamente", declarou a ministra dos Negócios Estrangeiros, Melanie Joly.
Os recentes desenvolvimentos do conflito na Etiópia, onde os separatistas de Tigray ameaçam marchar sobre a capital, Adis Abeba, estão a preocupar a comunidade internacional, que está a tentar obter um cessar-fogo.
Vários países, incluindo o Reino Unido, a França e os Estados Unidos, apelaram aos seus cidadãos para que abandonassem o país.
"A nossa embaixada em Adis Abeba permanece aberta, e os nossos funcionários consulares estão prontos a ajudar os canadianos que necessitam de ajuda de emergência", explicou a ministra.
Mas, alertou, "os canadianos devem fazer agora os seus próprios preparativos de viagem e não devem confiar na possibilidade de voos de evacuação".
O primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, afirmou hoje que o exército federal recuperou o controlo de áreas ocupadas pelas forças da Frente Popular de Libertação do Tigray (TPLF).
Segundo Abiy, as forças armadas federais assumiram o controlo da cidade de Kasagita, na região de Afar, que faz fronteira com o estado de Tigray, no norte do país.
As tropas federais estão agora a deslocar-se em direção às cidades de Chifra (Afar) e Burqa, na região de Amhara, que faz fronteira com o Tigray, ambas a mais de 500 quilómetros da capital etíope.
As comunicações estão cortadas nas zonas de combate e o acesso dos jornalistas é restrito, o que dificulta uma verificação independente.
O Governo federal anunciou esta quarta-feira que Abiy tem estado na linha da frente a liderar o exército na guerra contra as forças da TPLF, partido que governou a política etíope com mão de ferro entre 1991 e 2018, ano em que o atual primeiro-ministro chegou ao poder.
A guerra eclodiu em 04 de novembro de 2020, data em que Abiy lançou uma ofensiva contra a TPLF, o partido então no poder em Tigray, vencedor com maioria esmagadora em eleições estaduais não autorizadas por Adis Abeba, a pretexto de uma alegada retaliação por um ataque a uma base militar federal e no culminar de uma escalada de tensões políticas.
Até agora, segundo a ONU, milhares de pessoas foram mortas e cerca de dois milhões foram forçadas a fugir das suas casas devido à violência.
A TPLF - que tem anunciado não excluir a possibilidade de marchar sobre Adis Abeba, sede da União Africana (UA) - também formou alianças com outros grupos insurgentes, como o Exército de Libertação Oromo (OLA), ativo na região de Oromia em torno da capital.
Receios de que as forças estaduais afetas à TPLF e seus aliados pudessem tomar pelas armas a capital do segundo país mais populoso de África (mais de 110 milhões de pessoas) levaram a comunidade internacional a mobilizar esforços diplomáticos com o objetivo de pôr termo às hostilidades e de negociar um acordo entre as partes, até agora infrutíferos.
Na passada quarta-feira, o secretário-geral da ONU, António Guterres, apelou a um "cessar-fogo incondicional e imediato" na Etiópia para "salvar o país".
Vários países, incluindo o Reino Unido, França e Estados Unidos, apelaram aos seus nacionais para deixarem o país. As Nações Unidas começaram a retirar da Etiópia as famílias do seu pessoal internacional aí deslocado, processo que terá sido concluído esta semana.
O Governo português disse esta quinta-feira à Lusa que está a seguir com "muita atenção e preocupação" a situação na Etiópia. "O Ministério dos Negócios Estrangeiros segue com muita atenção e preocupação a evolução da situação na Etiópia, tendo designadamente em consideração as condições de segurança do pessoal afeto à nossa missão diplomática nesse país e junto da União Africana, assim como da vintena de cidadãos portugueses aí residentes", informou o gabinete de Augusto Santos Silva numa nota enviada à Lusa.
A embaixada de Portugal em Adis Abeba "está em contacto permanente" com estes compatriotas e "foram tomadas medidas no sentido de assegurar-lhes o apoio devido, se a situação assim o exigir", acrescentou o ministério.
O Governo revelou ainda estar "em articulação estreita, no terreno, com os demais Estados-membros da União Europeia e com as organizações internacionais" e que o ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros "acompanha pessoalmente este processo, em ligação direta" com a embaixada portuguesa em Adis Abeba.
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