Morreu, este domingo, Desmond Tutu, o arcebispo sul-africano que ficou para a história pelo seu papel contra o apartheid e por ser uma referência mundial na luta pelos direitos humanos, revela a Reuters. O também agraciado com o Prémio Nobel da Paz, em 1984, tinha 90 anos.
Desmond Mpilo Tutu nasceu em Klerksdorp, a 7 de outubro de 1931, e foi arcebispo da Igreja Anglicana. Para além da luta humanitária ao lado de Nelson Mandela, Desmond Tutu ficou conhecido por ser o primeiro negro a ocupar o cargo de Arcebispo anglicano da Cidade do Cabo, cargo que ocupou até 1996.
A morte de Tutu foi já confirmada, através do Twitter, por Cyril Ramaphosa, presidente da África do Sul.
Para Ramaphosa, "Desmond Tutu era um patriota sem igual, um líder de princípios e pragmatismo que deu sentido à compreensão bíblica de que a fé sem obras está morta". "Oramos para que a alma do Arcebispo Tutu descanse em paz, mas que o seu espírito permaneça como sentinela sobre o futuro da nossa nação", acrescentou o governante no Twitter.
Desmond Tutu was a patriot without equal; a leader of principle and pragmatism who gave meaning to the biblical insight that faith without works is dead. We pray that Archbishop Tutu’s soul will rest in peace but that his spirit will stand sentry over the future of our nation. pic.twitter.com/ULGzhOOn9E
— Cyril Ramaphosa 🇿🇦 (@CyrilRamaphosa) December 26, 2021
O arcebispo anglicano estava debilitado há vários meses, durante os quais não falou em público, mas ainda cumprimentava os jornalistas que acompanhavam cada uma das suas saídas recentes, como quando foi tomar a sua vacina contra a Covid-19 num hospital ou quando celebrou os seus 90 anos em outubro.
Quem foi Desmond Tutu?
Desmond Tutu ganhou notoriedade durante as piores horas do regime racista na África do Sul, quando organizava marchas pacíficas contra a segregação, enquanto sacerdote, pedindo sanções internacionais contra o regime branco em Pretória.
Com o advento da democracia, 10 anos depois, o homem que deu à África do Sul o nome de "nação arco-íris" presidiu à Comissão de Verdade e Reconciliação criada com o objetivo de virar a página sobre o ódio racial, mas as suas esperanças foram rapidamente frustradas. A maioria negra adquiriu o direito de voto, mas continua em grande parte pobre.
Depois do combate ao apartheid, Tutu empenhou-se na reconciliação do seu país e na defesa dos direitos humanos.
Contra a hierarquia da igreja anglicana, defendeu os homossexuais e o direito ao aborto, tendo nos últimos anos aberto como nova frente de combate o direito ao suicídio assistido.
Tutu criticou também os excessos do Governo do seu partido, o Congresso Nacional Africano (ANC), nomeadamente os erros do ex-presidente Thabo Mbeki na luta contra a sida, e nem o seu amigo Nelson Mandela escapou às suas críticas.
Em 2013 prometeu não votar mais no partido que triunfou sobre o apartheid novamente.
Desmond Tutu, nascido numa pequena cidade mineira a sudoeste de Joanesburgo, sofreu de poliomielite em criança, quis ser médico, mas desistiu por falta de meios e acabou por ser professor, tendo-se demitido para protestar contra a educação inferior reservada aos negros.
Acabou por entrar no seminário e foi ordenado sacerdote aos 30 anos.
Estudou e ensinou no Reino Unido e no Lesoto, estabelecendo-se em Joanesburgo em 1975, antes de ser nomeado arcebispo da Cidade do Cabo e chefe da comunidade anglicana no seu país.
Casou em 1955 com Leah, com quem teve quatro filhos.
Apesar do cancro da próstata diagnosticado em 1997 e de vários internamentos em hospitais, só muito gradualmente se retirou da vida pública, defendendo até ao fim o sonho de uma África do Sul multirracial e igualitária.
[Notícia atualizada às 09h17]
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