Expo Dubai. Produtores timorenses acusam comissão de falta de organização
Representantes de 14 grupos de artesanato e outros produtos artísticos e culturais timorenses criticaram hoje os organizadores da missão de Timor-Leste à Expo Dubai que deixou por enviar, durante meses, um contentor com produtos destinados ao evento.
© Reuters
Mundo Expo Dubai
"Os grupos são vítimas de um plano sem organização, de uma equipa que não sabe organizar bem este evento importante de representação de Timor numa exposição internacional. Os grupos estão dececionados pois trabalharam muito para poder entregar os produtos que nos foram pedidos com urgência", refere uma nota enviada à Lusa.
Em causa estão centenas de produtos, preparados especialmente para a Expo Dubai a pedido da missão organizadora do pavilhão timorense, e que estão há seis meses num contentor em Díli sem ser enviados para a exposição.
Detalhes da situação foram dados a conhecer à Lusa por representantes dos 14 produtores, entre os quais organizações como a Boneca de Ataúro, Projeto Montanha ou um coletivo de mulheres do enclave de Oecusse.
O grupo explica ter sido contactado para uma "reunião urgente" com Manuel Vong, responsável da equipa organizadora da participação de Timor-Leste na Dubai Expo.
"Todos nós estávamos esperançosos que seria uma reunião de novidades, ou de algum resultado positivo das entregas feitas há seis meses", explicou um dos representantes.
"Mas quando chegamos fomos informados que, afinal, os produtos nunca saíram daqui. Ficaram seis meses num contentor e agora tínhamos que os tirar de lá porque tinham que devolver o contentor ao dono", referiu.
Os artesãos e produtores expressaram "choque e surpresa" pelo anúncio porque "os produtos ficaram dentro de um contentor" à porta do edifício dos organizadores, e que nem se sabe ao certo a sua condição.
Manuel Vong disse à Lusa que o processo de envio de produtos para o Dubai "não é fácil" e que o primeiro contentor demorou seis meses a ser enviado, sendo necessário fechar aspetos como lista de itens, matérias-primas e outra informação exigida pelo país.
"Sim, alguns entregaram os produtos em agosto. Outros em setembro. Assim que recebemos as listas dos produtos dos produtores enviamos para o Dubai", afirmou.
Vong alega que ainda não houve aprovação para o envio de todos os produtos, seis meses depois, mas que a equipa está a trabalhar "para encontrar uma solução".
"Tivemos hoje a reunião com o gabinete do senhor ministro e certamente haverá algumas soluções. Queremos procurar soluções porque o Governo quer fortalecer o setor privado. Nós só facilitamos", afirmou.
"Possivelmente poderemos enviar alguns produtos por carga aérea", disse ainda.
Os produtores acusam Vong de ter feito discursos "vazios de soluções", com referências "vagas a planos sobre o aeroporto de Díli, de Baucau ou de Oecusse" e a outros investimentos do Governo.
As respostas não agradaram aos grupos, com produtores de Oecusse, por exemplo, a ameaçar mesmo levar o assunto ao Parlamento Nacional, recordando que chegaram a pedir empréstimos ao banco timorense BNCTL para fabricar os produtos a enviar para o Dubai.
"Estamos há seis meses a pagar o empréstimo, mas sem qualquer venda de produtos porque continuam no contentor à porta do senhor Vong", disse uma representante.
No caso do enclave de Oecusse, os produtos foram preparados por um conjunto de artesãos, a maioria mulheres, que teve que enviar representantes à sua custa -- incluindo pagamento de viagens de avião -- para participar na reunião.
Participantes no encontro dizem que houve momentos de "tristeza e choro" com muitos dos grupos, que já se debatem com dificuldades financeiras, a relembrar o investimento feito na produção.
Acusam ainda assessores do Ministério do Turismo de terem feito esperar os produtores "várias horas" mostrando "falta de respeito e compromisso" e sem oferecerem qualquer explicação clara ou solução.
"Os assessores tentaram empurrar o problema para o senhor Vong e este disse que não tinha responsabilidade e que o seu papel era mais de conceção. Chegaram mesmo a dizer que se não gostássemos podíamos levar o caso a tribunal", afirmou uma das representantes.
Os produtores insistem que foram contactados para preparar os produtos "com muita urgência" e que as autoridades mostraram uma "grande falta de respeito e de consideração".
"Saímos da reunião sem nenhuma solução. Penso que vamos ter que tirar os nossos produtos do contentor para que não se estraguem mais, e tentar vender alguma coisa, porque precisamos de apoiar famílias e mulheres que trabalharam muito", frisou.
"Queremos sugerir para o Governo que da próxima vez escolham pessoas adequadas para organizar um grande evento, pessoas de qualidade mas de boa vontade com grande sensibilidade humana, e pessoas que conhecem arte e cultura", sublinhou.
O responsável da missão de Timor-Leste à Expo Dubai explicou que desde a abertura, em 14 de outubro e até final do ano, o pavilhão timorense registou cerca de 145 mil visitantes, com um total de 13.000 dólares de produtos vendidos, principalmente café.
"Tivemos visitas de centenas de empresários de vários países interessados em oportunidades em Timor-Leste", afirmou.
"Este nosso investimento é um processo. Temos que ver a participação na exposição como um processo mais longo, que permitiu contactos entre pessoas, entre Governos e entre empresas. Não é apenas uma montra de produtos, mas uma montra do país, com encontros bilaterais", recordou.
Vong disse que foi assinado ainda um memorando de entendimento para um futuro acordo de serviços aéreos e que Timor-Leste foi convidado a ter um espaço no Dubai para sua promoção depois do fim da Expo.
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