Altos funcionários norte-americanos "espalharam a desinformação total" de que Moscovo está a preparar "uma provocação com um ataque à população de língua russa em Donbass, a fim de ter uma desculpa para uma invasão", disse Lavrov em Moscovo, durante uma conferência de imprensa com o seu homólogo croata, Gordan Grlic Radman.
As autoridades dos Estados Unidos, tanto ao nível da Casa Branca (Presidente) como do Pentágono (Defesa), alegaram, na sexta-feira, que a Rússia posicionou um grupo de operacionais para levar a cabo uma ação camuflada, ou "de bandeira falsa", no Leste da Ucrânia.
O porta-voz do Departamento de Defesa, John Kirby, disse que seria uma operação "concebida para parecer um ataque contra eles [os russos] ou o seu povo, ou pessoas de língua russa na Ucrânia, como uma desculpa para entrar" em solo ucraniano.
A porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, disse que os operacionais russos são treinados em guerrilha urbana e no uso de explosivos para "realizar atos de sabotagem contra as próprias forças da Rússia" para justificar a intervenção.
Lavrov citou a secretária de imprensa da Casa Branca como dizendo que o 'modus operandi' seria "semelhante a 2014", segundo a agência de notícias espanhola EFE.
"Certamente, a atual tragédia na Ucrânia começou em 2014, mas não por causa de uma alegada provocação por parte da Rússia, e sim como resultado do golpe de Estado apoiado pelos EUA e em grande parte orquestrado pelos EUA", disse.
O ministro russo referia-se aos protestos na Praça Maidan, ou Praça da Independência, em Kiev, que terminaram com o derrube do então presidente ucraniano pró-Moscovo, Viktor Yanukovych.
Lavrov comentou também as palavras da secretária de Estado Adjunta norte-americana, Victoria Nuland, que disse que Washington tinha 18 planos para contrariar uma possível agressão russa contra a Ucrânia.
"Só posso assumir que os EUA têm 17 serviços de inteligência. Pode haver 17 mais o secretário de Estado, 18. Talvez anunciem um concurso" de propostas, ironizou o ministro dos Negócios Estrangeiros russo.
Lavrov disse que, atualmente, a "Ucrânia é sem dúvida controlada pelos EUA", razão pela qual "Washington tem a capacidade de simplesmente forçar o regime de Kiev a cumprir finalmente os acordos de Minsk", o que, de acordo com Moscovo, poderia pôr fim ao conflito na região de Donbass.
"Não existe um plano B para o regime ucraniano, apenas os acordos de Minsk, que Kiev é obrigado a cumprir integralmente", acrescentou, referindo-se aos acordos alcançados entre a Alemanha, a França, a Ucrânia e a Rússia para pôr fim ao conflito no Leste da Ucrânia.
A Rússia concentrou cerca de 100.000 soldados e armamento pesado na sua fronteira com a Ucrânia nos últimos meses, o que as autoridades ucranianas e países ocidentais denunciaram como preparativos para uma invasão, intenção negada por Moscovo.
Na sequência do derrube de Yanukovych em 2014, a Rússia invadiu e anexou a península ucraniana da Crimeia.
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