"Acho que é um trabalho pedagógico de todos nós. Na verdade, não temos cumprido uma grande promessa da democracia que é a educação para a cidadania. Quem quer ser cidadão tem de procurar conhecer a história, sobretudo, a contemporânea do seu país", afirmou José Maria Neves, questionado pelos jornalistas depois de depositar uma coroa de flores na estátua de Amílcar Cabral, na cidade da Praia.
No arquipélago cabo-verdiano assinala-se hoje o Dia dos Heróis Nacionais, feriado no país e dia em que, há 49 anos, foi assassinado Amílcar Cabral, herói da libertação nacional em Cabo Verde e na Guiné-Bissau.
Para José Maria Neves, que assinala a data pela primeira vez como Presidente da República de Cabo Verde -- eleito em outubro passado --, é necessário um envolvimento de toda a sociedade e dos partidos políticos para uma maior educação para a cidadania e compreensão da história cabo-verdiana, como "fermento" para a "construção do futuro".
Amílcar Cabral, fundador do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), nasceu em 12 de setembro de 1924 e foi assassinado em 20 de janeiro de 1973 na Guiné-Conacri, ainda durante o período de luta contra o regime colonial português.
Para José Maria Neves, Amílcar Cabral é o símbolo maior de um país com sucessivos exemplos de luta: "Temos os peticionários para que houvesse mais igualdade no tratamento, no acesso aos cargos públicos desde o século 16, temos a revolta dos escravos, aqueles que foram condenados à morte por se revoltarem e lutarem pela liberdade e mais igualdade, temos os poetas e escritores dos vários movimentos que clamaram para que se tomassem medidas e para que os cabo-verdianos não continuassem a morrer de fome nos anos das secas e temos a luta pela libertação".
O presidente da Fundação Amílcar Cabral (FAC), o antigo presidente cabo-verdiano Pedro Pires, revelou em dezembro que o legado de Amílcar Cabral "é estudado em mais de uma centena de universidades do mundo".
"A fundação também faz parte dessas organizações ou entidades que se preocupam em aprofundar o conhecimento daquilo que pensou e fez Amílcar Cabral", disse Pedro Pires.
Cabo Verde está a preparar a candidatura dos escritos de Amílcar Cabral ao programa da Unesco Memória do Mundo e as comemorações do seu nascimento (2024).
Pedro Pires lembrou que Amílcar Cabral não é um exclusivo africano, guineense ou cabo-verdiano, mas sim uma personalidade universal que deve ser valorizada.
"É importante as pessoas se interessarem cada vez mais por Amílcar Cabral e por aquilo que os investigadores têm feito lá fora", afirmou, notando que Cabral é um símbolo que ajuda Cabo Verde a afirmar-se.
Neste sentido, acrescentou que tudo o que diga respeito ao conhecimento, à difusão e à expansão das ideias de Amílcar Cabral é o objetivo maior para cumprir este compromisso.
O programa "Memória do Mundo" foi estabelecido em 1992 pela UNESCO com o objetivo de contribuir para a preservação do património documental mundial.
A Fundação Amílcar Cabral, que tem como missão a preservação da obra e memória do seu patrono, promoveu, no âmbito do seu programa editorial, a edição de várias obras de Amílcar Cabral, entre as quais se contam "Unidade e Luta", "Cabo Verde: Reflexões e Mensagens" ou "A Emergência da Poesia em Amílcar Cabral".
Em 2015, criou o espaço museológico Sala-Museu Amílcar Cabral, onde pretende dar a conhecer às gerações mais novas e aos turistas que visitam a cidade da Praia, a história da luta de libertação liderada por Cabral.
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