Senegal pede à UE que não ponha "mais injustiça nos ombros de África"
O Presidente do Senegal, que em fevereiro assume a presidência da União Africana, apelou hoje à União Europeia para "não pôr mais injustiça nos ombros de África" ao cortar o financiamento de projetos de combustíveis fósseis.
© Lusa
Mundo Senegal
"Precisamos de alcançar um rácio de 31% de renováveis na produção de eletricidade, por isso dizer a estes países que têm esperança no gás que não vai haver financiamento para combustíveis fósseis é injusto", disse Macky Sall, durante um debate organizado, por videoconferência, pela Fundação África-Europa e pela Fundação Mo Ibrahim para antecipar a próxima cimeira União Africana (UA)-União Europeia (UE), prevista para o início do próximo mês.
Trinta e nove países e agências de desenvolvimento prometeram parar o financiamento de projetos de combustíveis fósseis no exterior durante a cimeira do clima de Glasgow, a COP26, em novembro.
A decisão tem sido criticada pelos países africanos, que argumentam que o gás é o mais limpo dos combustíveis fósseis e pode ter um papel na transição energética no continente.
Na conversa de hoje, em que também participou o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, Macky Sall disse que na cimeira UA/UE as nações africanas "falarão a uma só voz" na questão da transição energética.
"Precisamos de decidir por quanto tempo estas energias irão acompanhar a instalação de eletricidade em toda a África", disse o Presidente senegalês, recordando que muitos africanos ainda vivem sem eletricidade.
Um estudo divulgado pela organização do debate de hoje conclui que quase 600 milhões de africanos, quase metade da população do continente, vivem sem acesso à eletricidade, o que representa mais de 1,3 vezes a população da União Europeia.
Na UE, conclui o mesmo estudo, a totalidade dos 445 milhões de habitantes tem acesso à rede elétrica.
Macky Sall sublinhou que o gás é importante para a transição energética em África, e "não só em África, mas também na Europa": "Sabemos que muitos países europeus ainda usam gás", salientou.
O Presidente senegalês recordou ainda a promessa não cumprida da comunidade internacional de apoiar a adaptação do continente às alterações climáticas com 100 mil milhões de dólares (88 mil milhões de euros).
"África espera respostas da Europa em termos de solidariedade. Estamos todos comprometidos com o clima. As economias africanas estão entre as que menos poluem, mas somos a parte do mundo que é mais afetada pelas consequências das alterações climáticas", disse.
Para o futuro líder da União Africana, a UA e a EU precisam de se juntar para encontrar uma "estratégia que seja amiga do clima, mas que tenha em conta o nível de desenvolvimento dos países africanos.
Respondendo a Macky Sall, Charles Michel sublinhou que a União Europeia definiu objetivos ambiciosos para si própria há dois anos, nomeadamente a alcançar a neutralidade climática até 2050, e está agora a aplicar as medidas para alcançar esse objetivo.
E lembrou que a Europa também tem em curso o debate sobre que fontes de energia permitirão o desenvolvimento, recordando a taxonomia da UE, que define os critérios que serão usados para financiar a transição que sejam realistas do ponto de vista económico e social.
"O debate é legítimo, é muito relevante e a discussão que estamos a ter agora antecipa o debate que teremos entre os chefes dos Governos europeus e africanos", disse Michel.
O dirigente europeu referiu-se ainda à questão da promessa não cumprida dos 100 mil milhões de dólares, afirmando que "se há uma região que tem estado à altura dos seus compromissos" é a Europa.
"Foi a União Europeia de decidiu dedicar 25 mil milhões e mais cinco mil milhões adicionais por ano, por isso [a crítica dos países africanos sobre] a promessa de há uns anos não é tanto pata a União Europeia, mas sim para outros parceiros que não cumpriram as suas promessas", disse Michel, reiterando: "Nós cumprimos a nossa promessa".
As nações ricas prometeram em 2009 dar aos países em desenvolvimento 100 mil milhões de dólares por ano para os ajudar a lidar com as alterações climáticas, mas esse objetivo foi adiado para 2023 no início da COP26, o que motivou críticas dos países africanos.
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