Amnistia Internacional denuncia mortes e violações por forças do Tigray

Um novo relatório da Amnistia Internacional (AI) revela que combatentes afiliados com a Frente Popular de Libertação do Tigray (TPLF) mataram deliberadamente dezenas de pessoas, violaram dezenas de mulheres e raparigas e saquearam propriedade no norte da Etiópia.

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Lusa
16/02/2022 15:06 ‧ 16/02/2022 por Lusa

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Etiópia

Segundo o documento, as atrocidades foram perpetradas nos arredores de Chenna e Kobo, em finais de agosto e princípios de setembro de 2021, pouco depois de as forças rebeldes terem assumido o controlo das áreas, em julho.

A AI indicou que os ataques foram frequentemente caracterizados por atos adicionais de violência e brutalidade, ameaças de morte e o uso de calúnias étnicas e observações depreciativas.

Em Kobo, prossegue a organização de direitos humanos, "as forças do Tigray estavam aparentemente a atacar a população civil em retaliação pelo aumento da resistência das milícias locais e dos residentes armados".

"As forças do TPLF têm demonstrado total desrespeito pelas regras fundamentais do direito humanitário internacional que todas as partes beligerantes devem seguir. Desde julho de 2021 que surgem provas de que as forças tigreanas estão a cometer crimes de guerra e possíveis crimes contra a humanidade em áreas sob o seu controlo na região de Amhara. Isto inclui repetidos incidentes de violação generalizada, assassinatos sumários e pilhagens, incluindo de hospitais", disse Sarah Jackson, a diretora regional adjunta da AI para a África Oriental, Corno de África e Grandes Lagos.

E prosseguiu: "A liderança da TPLF deve pôr um fim imediato às atrocidades que temos documentado e retirar das suas forças qualquer pessoa suspeita de envolvimento em tais crimes".

A AI entrevistou 27 testemunhas e sobreviventes, incluindo alguns que ajudaram a recolher e a enterrar os corpos. Dez residentes de Kobo disseram à organização que, na tarde de 09 de setembro de 2021, os combatentes de Tigray mataram sumariamente os seus familiares e vizinhos fora das suas casas.

"Primeiro mataram o meu irmão Taddese. Ele morreu no local. O meu outro irmão e o meu cunhado tentaram afastar-se e foram ambos alvejados pelas costas e mortos. Eles alvejaram-me no ombro esquerdo, eu fiquei no chão, fingindo estar morto", disse um sobrevivente à AI.

Outros 12 residentes de Kobo disseram que encontraram os corpos de residentes e trabalhadores locais que tinham sido mortos ao estilo de execução - baleados na cabeça, no peito ou nas costas, alguns com as mãos atadas atrás das costas.

"Os primeiros cadáveres que vimos foram junto à vedação da escola. Havia 20 corpos deitados em roupa interior e de frente para a vedação e mais três corpos no recinto da escola. A maioria foi alvejada na parte de trás das suas cabeças e alguns nas costas. Aqueles que foram alvejados na parte de trás das suas cabeças não puderam ser reconhecidos porque os seus rostos foram parcialmente arrancados", contou um morador.

A análise de imagens de satélite pelo Laboratório de Provas de Crise da AI mostra provas de novos locais de sepultamento nos terrenos da Igreja de São Jorge e da Igreja de São Miguel, onde os residentes disseram ter enterrado os mortos a 09 de setembro. As mortes deliberadas de civis - ou de combatentes capturados, rendidos ou feridos - constituem crimes de guerra e possivelmente crimes contra a humanidade.

A partir de julho de 2021, em Chenna e arredores, uma aldeia a norte de Bahir Dar, a capital da região de Amhara, as forças tigreanas violaram dezenas de mulheres e raparigas a partir dos 14 anos, frequentemente nas próprias casas das vítimas depois de as terem forçado a fornecer comida e a cozinhar para elas.

A violência sexual foi acompanhada por níveis chocantes de brutalidade, incluindo espancamentos, ameaças de morte, e calúnias étnicas. Catorze dos 30 sobreviventes entrevistados pela AI afirmaram ter sido violados por múltiplos combatentes de Tigray, e alguns foram violados em frente dos seus filhos.

Sete dos sobreviventes eram raparigas com menos de 18 anos de idade.

Lucy, uma estudante do sétimo ano de 14 anos e a sua mãe foram ambas violadas por combatentes do Tigray, na sua casa em Did-Bahr. Ela contou à AI: "Eu estava em casa com a minha mãe e a minha avó quando dois jovens com espingardas chegaram a nossa casa de manhã, por volta das 11:00. Um deles usava roupa militar e o outro usava roupa civil. Disseram 'As nossas famílias foram violadas e agora é a nossa vez de vos violar'. Um deles violou-me no pátio e o outro violou a minha mãe dentro de casa. A minha mãe está muito doente agora, está muito deprimida e desesperada. Não falamos do que aconteceu; é impossível".

O conflito em Tigray eclodiu em novembro de 2020 e alastrou-se a outras regiões do norte da Etiópia a partir de julho de 2021.

Leia Também: Etiópia. EUA saúdam fim da emergência e exigem libertação de presos

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