O assessor de política externa do Kremlin, Dmitry Suslov, disse ontem em entrevista ao jornal italiano Corriere Della Sera que a Rússia só parará "quando a atual Ucrânia desaparecer", anunciando que "A Cortina de Ferro está de volta".
Suslov não só admitiu que a Rússia não tem intenções de parar, enquanto os objetivos não forem cumpridos, como revelou qual era o objetivo deste ataque: a mudança de regime em Kiev. "Nem mais, nem menos", disse o assessor.
"Putin deixou claro: os objetivos são a desmilitarização e a desnazificação. O exército russo quer controlar todo o território ou a maior parte dele. Moscovo recusa-se a falar com o governo ucraniano e isso implica que a operação militar continuará e que o resultado que esperamos é o surgimento de um novo país", explicou ainda o político.
Segundo as explicações do assessor do Kremlin, a Rússia quer um "novo país", mais "amigável e leal, desprovido de ideologia nacionalista e em relações completamente diferentes com o Ocidente".
Acrescenta ainda que a "paciência" de Putin terminou perante as preocupações e demandas "ignoradas" pelo Ocidente e, por isso, decidiu agir "unilateralmente".
"Estamos em confronto total com o Ocidente, incluindo a União Europeia. Se não é uma nova cortina de ferro, estamos perto. O embate será forte, voltaremos a considerar-nos inimigos. Infelizmente, tudo isto é verdade, mas a liderança russa considera mais importante a resolução da questão ucraniana e está disposta a pagar o preço”, concluiu ainda.
Dmitry Suslov afirma ainda que a Rússia não tem medo de ficar "isolada".
“O mundo é maior que o Ocidente, que não o domina mais. Não há dúvida de que a Rússia estará politicamente isolada do mundo ocidental e as suas relações serão hostis por muitos anos. Mas não faz sentido falar de isolamento russo na comunidade internacional: as nações que os EUA podem motivar contra a Rússia são uma minoria", aponta Suslov pondo as suas 'fichas' na China, Índia, Oriente Médio, África e América Latina que "não vão isolar a Rússia".
Sobre as sanções energéticas, o assessor político desvaloriza-as afirmando que "será a Europa que usará a arma energética contra si mesma".
"Após o bloqueio do Nord Stream 2 , se o fluir de gás pela Ucrânia se tornar impossível devido à ação militar, os únicos gasodutos ativos serão o Nord Stream 1, o Turkish Stream e um muito pequeno através da Bielorrússia. Quero dizer que a Europa sofrerá não porque a Rússia cortará o fornecimento, o que continuará, mas porque decidiu se privar do Nord Stream 2", acrescenta.
Recorde-se que a Rússia lançou ontem de madrugada uma ofensiva militar contra a Ucrânia com vários alvos ao longo do país.
Pelo menos 120 pessoas, entre soldados e civis, já morreram em pouco mais de 24 horas e há centenas de feridos.
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