A Rússia, disse Volodymyr Zelensky, deixou de "fazer só ultimatos", mas ficou sem se saber qual a importância e alcance destas declarações.
Questionado sobre as afirmações de sexta-feira de Vladimir Putin, que falou em "avanços" nas conversações russo-ucranianas, Zelensky disse estar "contente por ter um sinal da Rússia", mas não deu mais explicações, ao falar numa conferência de imprensa em Kyiv.
Hoje foi o 16.º dia de guerra e o dia foi de contrastes, entre as bombas de manhã e os sinais diplomáticos de Zelensky, à tarde.
Kyiv amanheceu, na descrição dos repórteres da agência Associated Press, ao som de rebentamentos nos arredores. Duas colunas de fumo erguiam-se a sul da capital -- uma branca e outra negra -- enquanto em cidades como Mariupol, cercada pelas forças russas e sem abastecimento de alimentos e medicamentos, as notícias eram de também de destruição e ataques aéreos contra uma mesquita onde estavam 80 pessoas.
As tentativas de levar alimentos e retirar civis de Mariupol foram, até agora, um fracasso -- as forças da Ucrânia e da Rússia acusam-se mutuamente de violarem os sucessivos cessar-fogos -- mas as autoridades ucranianas tentaram hoje, novamente, abrir corredores humanitários.
Mariupol, uma cidade com cerca de 500 mil habitantes no sudeste da Ucrânia nas margens do mar interior de Azov, é um importante centro industrial do país, e o presidente da câmara estima que, em 12 dias, tenham morrido 1.500 pessoas.
Um dos alvos dos militares russos durante a madrugada, com ataques aéreos do exército, foi um terminal de petróleo, que se incendiou, na cidade de Vasilkiv, na região de Kyiv.
No terreno, a coluna militar russa, que há uma semana chegou a ter 60 quilómetros e, segundo fontes ucranianas, se dispersou por várias regiões, está agora a cerca de 25 quilómetros da capital, segundo uma informação do Ministério da Defesa do Reino Unido.
Com os bombardeamentos russos a chegar aos arredores da capital, o presidente da câmara de Kyiv anunciou que a cidade está a armazenar medicamentos, produtos e bens de primeira necessidade, antevendo uma possível invasão por parte das tropas russas.
Logo pela manhã, as autoridades ucranianas acusaram a Rússia de terem atingido um hospital que presta cuidados oncológicos e vários edifícios residenciais na cidade de Mykolaiv, no sul do país, com bombardeamentos de artilharia pesada, um ataque que, segundo as informações iniciais, não fez vítimas.
Na "guerra" de números, o presidente da Ucrânia disse hoje que cerca de 1.300 militares ucranianos foram mortos desde o início da ofensiva militar de Moscovo e que a parte russa teve "perdas colossais" - 12.000 soldados.
A 02 de março, o exército russo tinha indicado que perdera cerca de 500 militares, um balanço que não foi atualizado desde então.
Na frente diplomática, o presidente de França, Emmanuel Macron, e o chanceler alemão, Olaf Scholz, conversaram hoje novamente com o líder russo, Vladimir Putin, sobre a guerra na Ucrânia, um dia após a cimeira europeia em Versalhes, informou o Palácio do Eliseu.
Num vídeo divulgado pela presidência ucraniana, Zelensky pediu hoje aos líderes franceses e alemães que ajudem a libertar o autarca da cidade ucraniana de Melitopol, que, segundo Kyiv, foi sequestrado na sexta-feira pelos russos.
Os três líderes já tinham conversado por telefone na quinta-feira, altura em que França e Alemanha "exigiram um cessar-fogo imediato da Rússia".
No Vaticano, o papa Francisco fez hoje um novo apelo para acabar com a invasão russa da Ucrânia e a guerra, denunciando as duras repercussões nas crianças. E pediu: "Em nome de Deus, parem!"
A Rússia lançou a 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que já causou pelo menos 564 mortos e mais de 982 feridos entre a população civil e provocou a fuga de cerca de 4,5 milhões de pessoas, entre as quais 2,5 milhões para os países vizinhos, segundo os mais recentes dados da ONU.
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas a Moscovo.
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