"Como disse o Presidente [da Rússia, Vladimir] Putin, somos o campeão em termos do número de sanções", disse Serguei Lavrov numa entrevista à televisão russa RT, citada pela agência noticiosa TASS.
Lavrov, 71 anos, que é ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia desde 2004, é um dos alvos individuais das restrições impostas pelo Ocidente, tal como Vladimir Putin.
Segundo Lavrov, a Rússia foi alvo de "mais de 5.000 medidas individuais" por ter invadido a Ucrânia, em 24 de fevereiro.
"Isto é quase o dobro do número de sanções impostas à Coreia do Norte e ao Irão", observou.
Lavrov disse à RT que as sanções "só tornaram a Rússia mais forte" e admitiu que a "pressão sancionatória vai continuar".
"Eles [o Ocidente] estão agora a ameaçar com uma quinta vaga de sanções, talvez depois disso venha a haver outra vaga, mas estamos habituados a isso", desvalorizou.
O veterano da diplomacia de Moscovo considerou que a Rússia aprendeu a lição histórica de que não pode contar com parceiros ocidentais, uma "ilusão que foi completamente destruída".
"Agora, só podemos contar com nós próprios e com os aliados que permanecerão ao nosso lado. Esta é a principal conclusão para a Rússia no contexto da geopolítica", afirmou, citado pela TASS.
Lavrov disse que a Rússia não recusará no futuro cooperar com países ocidentais, mas deixa de os considerar fiáveis.
"Vamos cooperar com eles, [mas] lembrando-nos muito bem que não podemos pensar que são de confiança a longo prazo", acrescentou.
Na entrevista à RT, cujas emissões foram proibidas na União Europeia desde a invasão, Lavrov também reafirmou que Moscovo considera como "alvos legítimos" todos os carregamentos chegados à Ucrânia suspeitos de transportarem armas.
"Deixámos muito claro que todos os carregamentos que chegam à Ucrânia e que, na nossa opinião, transportem armas, serão alvos legítimos [para ataque]", afirmou Lavrov, citado pela agência espanhola EFE.
Lavrov justificou que a "operação militar especial" russa na Ucrânia, na designação oficial de Moscovo, visa precisamente "eliminar qualquer ameaça" do país vizinho à Rússia.
A operação visa também "proteger a população civil" do Donbass, que "está sob ataque há oito anos", acrescentou, aludindo à guerra iniciada em 2014, no leste da Ucrânia, por separatistas pró-russos apoiados por Moscovo.
A União Europeia e países como os Estados Unidos, o Reino Unido, o Japão ou a Austrália impuseram sanções sem precedentes à Rússia, na sequência da sua intervenção militar na Ucrânia.
As medidas de retaliação provocaram uma desvalorização histórica do rublo e congelaram alguns fundos no estrangeiro, impedindo o Banco Central de apoiar a moeda russa.
Muitas empresas estrangeiras anunciaram igualmente a sua retirada da Rússia ou o fim da cooperação com Moscovo, ameaçando centenas de milhares de postos de trabalho no país.
A invasão da Ucrânia pela Rússia desencadeou uma guerra que provocou um número ainda por determinar de baixas civis e militares.
Até ao fim de quarta-feira, a ONU tinha confirmado a morte de 780 civis, incluindo 58 crianças, mas alertou que os números reais "são consideravelmente mais elevados".
A guerra na Ucrânia, que entrou hoje no 22.º dia, também levou à fuga de quase cinco milhões de pessoas, mais de três milhões das quais para os países vizinhos, na pior crise de refugiados na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).