Chumbada resolução humanitária da Rússia no Conselho de Segurança da ONU

Uma resolução "humanitária" sobre a Ucrânia apresentada pela Rússia no Conselho de Segurança da Organização da Nações Unidas (ONU) foi hoje chumbada, sem surpresas, com dois votos a favor e 13 abstenções.

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Marta Moreira
23/03/2022 21:43 ‧ 23/03/2022 por Marta Moreira

Mundo

Guerra na Ucrânia

A favor da resolução votaram a Rússia (autora do projeto) e a China, sendo que os restantes diplomatas se abstiveram, não tendo sido registado nenhum voto contra.

Para ser aprovada, a resolução precisava de um mínimo de nove votos favoráveis no Conselho de 15 membros e nenhum veto de um dos outros quatro membros com esse poder.

A resolução "humanitária" sobre a Ucrânia elaborada pela Rússia foi vista por vários diplomatas como uma "hipocrisia", tendo em conta que foi a própria Rússia a causar "esta guerra ilegal", estando condenada ao "fracasso" devido à falta de apoio.

"É realmente inconcebível que a Rússia tenha a audácia de apresentar uma resolução pedindo à comunidade internacional que resolva uma crise humanitária que só a Rússia criou. Os Estados Unidos pretendem abster-se porque, para dizer o óbvio, a Rússia não se importa com a deterioração das condições humanitárias, ou com os milhões de vidas e sonhos que a guerra destruiu. Se eles se importassem, parariam de lutar", avaliou a embaixadora norte-americana junto da ONU, Linda Thomas-Greenfield, antes da votação.

Após a votação, vários embaixadores frisaram que não votaram favoravelmente à resolução porque esta não identifica a Rússia como o agressor, além de ter sido apresentada pelo próprio autor do conflito.

"Isto não é uma resolução humanitária, é uma distração, porque se a Rússia se preocupasse com os cidadãos, pararia esta guerra", afirmou, por sua vez, a embaixadora da Noruega, Mona Juul.

Já a China, aliada russa que tem evitado condenar a invasão da Ucrânia, lamentou que o Conselho de Segurança não tenha conseguido chegar a um acordo em relação às questões humanitárias.

De acordo com Pequim, o seu voto favorável à resolução russa foi baseado na necessidade de resolver a questão humanitária na Ucrânia e para facilitar a evacuação de civis.

"A China adere a uma política externa independente", frisou o embaixador chinês, Zhang Jun.

Já o embaixador russo na ONU, Vasily Nebenzya, avaliou que esta votação "expôs todos aqueles politizam a assistência humanitária", pois a resolução previa a possibilidade de um cessar-fogo, evacuação de civis, assim como impedimento de ataques a zonas residenciais ou proteção de feridos, mulheres e crianças.

"Quando se lamentarem que estas coisas não aconteceram, iremos recordar-vos que vocês não votaram para que isso acontecesse", disse o diplomata da Rússia, argumento que foi duramente criticado pela maioria dos embaixadores.

A derrota russa ocorreu no mesmo dia em que a Assembleia Geral da ONU deu início à avaliação de duas resoluções rivais sobre a situação humanitária na Ucrânia.

Uma resolução apresentada pela França e pelo México - e apoiada pela Ucrânia e co-patrocinada por mais de 80 países - responsabiliza a Rússia por toda a situação humanitária em solo ucraniano.

Outra resolução humanitária, da autoria da África do Sul, deixa de fora qualquer responsabilização de Moscovo.

A avaliação destas duas resoluções na Assembleia Geral da ONU continuará na quinta-feira.

Em 25 de fevereiro, um dia depois do início da invasão russa, 11 dos 15 membros do Conselho de Segurança da ONU votaram a favor de um texto a condenar o conflito, com o veto da Rússia (um dos cinco membros permanentes do órgão).

E, em 02 de março, a Assembleia-Geral da ONU, por uma votação massiva de 141 votos a favor, pediu a Moscovo que terminasse a sua ofensiva.

Contudo, vários diplomatas recordaram hoje na ONU que nada foi feito pelo Kremlin desde então, frisando que os ataques a civis até aumentaram.

A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que causou pelo menos 977 mortos, dos quais 81 crianças e 1.594 feridos entre a população civil, incluindo 108 menores, e provocou a fuga de mais 10 milhões de pessoas, entre as quais 3,60 milhões para os países vizinhos, indicam os mais recentes dados da ONU.

Segundo as Nações Unidas, cerca de 13 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária na Ucrânia.

A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.

Leia Também: Kyiv usa reconhecimento facial para revelar dimensão das perdas russas

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