Alvo de sanções, dono dos supermercados Dia diz não saber "como viver"

Agora, o bilionário está à mercê da autorização do governo britânico para gastar dinheiro, que analisa os pedidos e determina se são "razoáveis".

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Daniela Filipe
24/03/2022 11:38 ‧ 24/03/2022 por Daniela Filipe

Mundo

Ucrânia/Rússia

Mikhail Fridman, um dos sete oligarcas da primeira onda e dono do fundo de investimento Letterone, que controla a cadeia de supermercados espanhola Dia e Minipreço, viu a sua vida virada do avesso com as sanções ocidentais aplicadas aos magnatas russos próximos do presidente daquele país, Vladimir Putin. Em entrevista à Bloomberg, Fridman revela que não sabe “como viver”, não entendendo o porquê de ter sido “castigado”.

O magnata conta que, no dia da invasão russa, estava em Moscovo numa viagem de negócios, voltando rapidamente para Londres, onde reside. Instruiu os seus executivos para usarem todo o dinheiro da empresa que fosse necessário para manter as suas famílias e funcionários seguros e, numa rara posição política, condenou a guerra, que “nunca poderá ser a resposta”. Depois, a sua organização de solidariedade, a Genesis Philantropy Group, anunciou que doaria 10 milhões de dólares (cerca de 9.105.200 euros) a organizações de judeus que apoiassem refugiados na Ucrânia. Convencido que os “amigos” do ocidente não lhe aplicariam sanções, “não conseguia acreditar” quando soube da notícia.

“Não compreendo a lógica de me castigar. O entendimento geral entre os ocidentais é que ‘Oh, aqueles oligarcas gananciosos podem pedir a Putin para parar’. Por que é que pensam isso?”, questiona, acrescentando que a “distância do poder de Putin perante qualquer outra pessoa é como a distância entre a Terra e o cosmos”.

Segundo a Bloomberg, Fridman valia cerca de 14 mil milhões de dólares (cerca de 12.747.280,000 de euros) antes da guerra. Agora, vale cerca de 10 mil milhões no papel (cerca de 9.103.500,000 de euros), encontrando-se na “estranha posição de ser um oligarca essencialmente sem dinheiro”. Atingido pelas sanções da União Europeia (UE) e do Reino Unido, o magnata viu as suas contas e o seu último cartão de crédito congelados, estando à mercê da autorização do governo britânico para gastar dinheiro, que analisa os pedidos e determina se são “razoáveis”. Em causa está uma mensalidade de cerca de 2.500 libras por mês (aproximadamente três mil euros). Com um sorriso nervoso, Fridman confessa não saber “como viver”, nem como pagar ‘pequenas’ despesas, como uma empregada doméstica.

“Talvez deva ser eu a limpar a casa”, adianta, ainda que procure não se queixar. “Não há problema. Vivi num pequeno dormitório com quatro homens quando era estudante mas, depois de 35 anos, é inesperado”, esclarece, acrescentando, contudo, que os seus problemas “não são nada comparados com os problemas [dos ucranianos afetados pela guerra]”.

Com 57 anos, Mikhail Fridman nasceu no seio de uma família judia de Lviv, licenciando-se numa universidade técnica de Moscovo. Desde o fim da URSS que se tornou num dos homens mais ricos do mundo, dirigindo um império que vai do petróleo e gás à banca, telecomunicações e comércio a retalho.

Ainda que tente não se envolver em política, o oligarca condenou a guerra travada por Vladimir Putin, numa carta partilhada pelo Financial Times, no início deste mês.

“Nasci no oeste da Ucrânia e vivi lá até os 17 anos. Os meus pais são cidadãos ucranianos e moram em Lviv, a minha cidade favorita”, escreveu, na altura.

Recorde-se que a cadeia de supermercados espanhola Dia, dona do Minipreço em Portugal, controlada pelo fundo Letterone, que o magnata russo criou, assegurou que "não [seria] afetada de forma alguma" pelas sanções da UE que visaram Fridman e muitos outros oligarcas próximos do presidente russo.

Leia Também: Dia afirma que russo Fridman não controla os seus supermercados

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