Guerra na Ucrânia. Residentes em Kyiv indecisos entre sair e ficar

No bairro residencial de Nvyky, como em tantos outros da capital ucraniana, Kiev, os moradores dividem-se entre os que querem fugir após ataques a zonas habitacionais e os que querem ficar na terra onde cresceram.

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© Emin Sansar/Anadolu Agency via Getty Images

Lusa
24/03/2022 12:18 ‧ 24/03/2022 por Lusa

Mundo

Ucrânia

Ania, 27 anos, tinha saído para trabalhar de manhã cedo, já tinha comido o pequeno-almoço e, quando estava na casa de banho, o quarto onde dormira foi atingido violentamente por munições expansivas de um foguete GRAD, caído mesmo à porta de sua casa.

"Está todo destruído", diz Ania, enquanto olha para um tio e um vizinho a fixarem uma chapa de zinco na janela do quarto.

Hoje, Ania não tem dúvidas. "Vou sair de Kiev. Não sei para onde vou, mas vou fugir desta guerra que não quis", explica.

O disparo do 'rocket' (que depois espalha munições numa área em redor do impacto para causar o máximo de danos) foi feito às 07:30 locais a uma distância máxima de 40 quilómetros e visaria uma fábrica Antonov, de peças de aviação, a um quarteirão do local.

"Os russos são burros, não conseguem acertar numa coisa tão grande como uma fábrica e fazem isto", desabafa Alexander, 60 anos, o vizinho de Ania, enquanto ajuda a fixar a placa.

"Vou sair de Kiev ainda hoje. Olhe, isto está tudo destruído", diz, apontando para os prédios em redor, muitos deles com sinais de terem sido atingidos pelas munições do GRAD.

Do outro lado da rua a montra de um banco ficou estilhaçada, há sinais de danos em várias janelas e nos telhados dos prédios já há quem tente reparar a cobertura, 24 horas depois do ataque.

Completado um mês após a invasão da Ucrânia, assiste-se a algum cansaço em relação aos ataques e aos disparos russos.

"Eu já nem sequer vou para os abrigos quando toca a sirene [de ataque aéreo]. Ajoelho-me e rezo, porque só Deus nos pode salvar disto", diz a arménia Susana, moradora da zona, enquanto fecha os grandes olhos azuis e simula com as mãos a oração.

O seu companheiro, Tigran, também arménio, faz o mesmo, mas diz que os dois recusam sair de Kiev.

"Isto é a nossa casa, vivemos cá há muitos anos. Vou para onde? Vou fugir para onde?", questiona, insistindo: "A minha filha está aqui a estudar na universidade. Há aulas online, nós conseguimos continuar a trabalhar".

Após 30 dias de ataques, o exército russo controla apenas uma grande cidade no sul e a Ucrânia transformou-se num imenso campo militar.

As autoridades ucranianas colocaram barreiras e pontos de controlo em redor da capital, mas mesmo no centro existem várias trincheiras para combater uma eventual entrada de militares russos.

Os painéis eletrónicos de publicidade deixaram de referir marcas para fazer apelos à população ou propagar insultos à Rússia. "Exército russo desistam e poupem vidas: as vossas" ou "Putin é um criminoso, não vai receber flores, mas balas", pode ler-se num dos painéis a caminho da Praça da Independência (Maidan, palco da revolução de 2014).

Nas últimas 48 horas, o exército ucraniano recuperou alguns quilómetros na zona nordeste. Na estrada, até onde deixam circular os jornalistas, ainda são visíveis alguns sinais de disparos e explosões.

Em Novi Petrivtsi, uma barreira de militares só permitia a circulação dos residentes e após uma revista dos veículos. Para lá dessa zona será território libertado pelos ucranianos, depois de o exército russo ter estado vários dias às portas de Kiev.

É frequente o ruído de fundo dos disparos e as sirenes, mas hoje quem vive ainda na capital já se habituou.

"Eu já estava habituada a isto, sempre pensei que a guerra não me iria atingir", desabafa Ania, de mãos nos bolsos e capuz na cabeça.

Leia Também: AO MINUTO: Ucrânia merece ser "membro de pleno direito da UE"

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