Ucraniana em Portugal: "Sasha também morreu, nunca vou perdoar a Rússia"
Lyudmyla Serhiyenko temia perder mais um familiar na guerra com a Rússia. O seu maior medo aconteceu e 'Lu' afirma que nunca esquecerá o que o regime de Putin lhe tirou.
Mundo Guerra na Ucrânia
No segundo dia da invasão russa à Ucrânia, dia 25 de fevereiro, Lyudmyla Serhiyenko, uma jovem ucraniana de 25 anos que mora há 11 em Portugal, falava com o Notícias ao Minuto sobre o que estava a sentir com o início da guerra no seu país, onde um dia quer regressar. O medo era de, à semelhança do que aconteceu em 2015, com a morte de um dos seus tios, voltar a perder um familiar.
O pior acabou por acontecer e 'Lu', como gosta de ser tratada, soube, na semana passada que Sasha se tinha juntado ao seu tio Andriy "no céu".
Numa publicação partilhada no Facebook, a jovem relata a história do seu tio Sasha e como ele era visto como o homem que "veio ocupar o vazio" nos corações da família, preenchendo o "lugar de Andriy, sendo que foi um dos últimos que o viu vivo".
Lu começa por descrever uma fotografia onde estão Andriy e Sasha.
"À direita podem ver Andriy. O meu tio de sangue. Irmão mais novo da minha mãe. Ele morreu em 2015, perto de Luhansk, porque, sim a guerra continua desde 2014. Quando ele morreu, nós nem nos conseguimos despedir dele, sendo que o caixão não podia ser aberto (todos percebem porquê e o que estava lá). Ao lado dele, à esquerda, podem ver Sasha. Amigo dele que quando veio ao funeral de Andriy, conheceu a minha tia, outra irmã da minha mãe e do Andriy", começa por contar.
"Nós dizíamos que ele [Sasha] veio ocupar o vazio nos nossos corações"
Sasha e a tia de Lyudmyla apaixonaram-se e viriam depois a casar. "Nós dizíamos que ele [Sasha] veio ocupar o vazio nos nossos corações, veio para ficar no lugar de Andriy, sendo que foi um dos últimos que o viu vivo. Há um ano e meio atrás, Sasha e a minha tia tiveram uma filha, a minha prima", continua.
A jovem afirma que o tio permaneceu na Ucrânia para lutar, pois queria que "a filha pudesse ter um bom futuro, num país livre".
Sasha é uma das vítimas da invasão russa que já dura há 30 dias.
"O que eu senti quando descobri isto, nem consigo descrever. Na maior parte é dor. É dor porque eles já me tiraram dois familiares. Dois que nunca mais vou ver e que nem consigo ir ao funeral, nem me consigo despedir", descreve.
O sentimento de Lu, neste momento, é de raiva contra a ofensiva lançada pelo regime de Vladimir Putin, que já causou a morte de mais de 1.000 civis, pelo menos, segundo dados da ONU.
"A única coisa de que tenho a certeza é: eu nunca vou esquecer e nunca vou perdoar isso à Rússia. Nunca. Eles [Andriy e Sasha] serão sempre heróis e porque eles e outros heróis que morreram a defender o meu país, eu tenho a certeza que a vitória será nossa. Só nossa. Slava Ukraini!", conclui Lyudmyla.
O desabafo sentido é de quem vive a guerra à distância, mas sente na pele os seus efeitos. A jovem ucraniana afirma ainda ao Notícias ao Minuto: "Quero que as pessoas saibam a verdade daquilo que está a acontecer".
Desde o início da invasão russa, lançada na madrugada de dia 24 de março, já morreram, entre a população civil, pelo menos 1.081 pessoas, incluindo 93 crianças, e 1.707 feridos. Destes feridos, 120 são menores.
Mais 10 milhões de pessoas fugiram das suas casas e, dessas, 3,7 milhões foram para os países vizinhos, segundo os mais recentes dados da ONU. A probabilidade de o número real de vítimas civis ser muito maior é grande, visto que estes são apenas os número de óbitos cuja confirmação foi possível.
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.
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