"Já não dava mais. Tentei ficar o mais tempo possível", diz à Lusa Alexander. No caminho, a carrinha onde seguia passou por uma mina terrestre e viajou sem vidro e a traseira destruída.
Veio ter com a filha e as noras e os netos, refugiadas num apartamento no centro de Dnipro, a quarta cidade da Ucrânia, que já tinham fugido ao final de uma semana de combates, no início de março.
Os homens estão ao serviço dos militares e das forças de defesa territorial e Alexander acredita que vai voltar em breve para Mariupol.
"Espero que a guerra acabe em breve, espero que os exércitos ucranianos os expulsem da minha terra", diz.
Katia, a sua mulher, começa por estar calada, mas depois pormenoriza a vida durante três semanas numa cidade destruída.
"No primeiro dia estivemos num 'bunker' e as minhas filhas tiveram de sair. O sistema de gás foi todo destruído e tivemos de queimar a mobília para nos aquecer", recorda.
Quando "já não havia comida, percebemos que não podíamos continuar", diz Katia. Alexander interrompe: "enquanto houve eletricidade e gás era possível aguentar", mas depois "percebemos que a nossa casa estava perdida".
A fuga foi feita numa carrinha atingida parcialmente por uma mina terrestre. "Dava para conduzir e eu consegui fugir de lá", diz Alexander, que recorda uma "cidade irreconhecível" e alega que "não há palavras para descrever".
Hoje vivem em Dnipro de caridade de pessoas que não conhecem sequer. "Não sei quem é o dono do apartamento, só nos disseram para vir para aqui. Muito obrigado. Mil obrigados", salienta Katia, emocionada
Uma das suas netas segura um peluche limitando-se a dizer, através da irmã, que lhe faz falta o gato deixado em casa.
"Não foi possível trazer tudo", responde Adna, a sua mãe e nora de Alexander e Katia.
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