Os 13 membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), conduzidos pelo Ride, e os seus 10 parceiros, liderados por Moscovo, vão reunir-se na quinta-feira para o seu habitual ponto mensal sobre a produção.
Os preços do barril conheceram várias subidas acentuadas desde o início da invasão russa da Ucrânia, roçando em 07 de março os recordes históricos das duas qualidades que servem de referência neste mercado, o europeu Brent (139,13 dólares) e o norte-americano West Texas Intermediate, ou WTI (130,50 dólares.
Na terça-feira, as cotações baixaram mais de cinco por cento, em reação aos progressos anunciados nas negociações entre russos e ucranianos, no sinal mais recente da sua volatilidade.
Mas a OPEP+, aliança que viu o dia em 2016 para regular o mercado, não se deve afastar da sua estratégia de aumento modesto da sua produção, esperam os analistas.
A invasão russa da Ucrânia "lembra ao mundo que continuamos dependentes da OPEP+ para garantir o abastecimento energético do planeta", realçou Edward Moya, da Oanda.
E, neste contexto, tanto Riade como Moscovo ganham, ignorando as pretensões dos países do Gripo dos 7 (G7) -- Alemanha, Canadá, EUA, França, Itália, Japão e Reino Unido -, que apelaram recentemente aos países produtores para que aumentem os seus fornecimentos, insistindo no papel chave do cartel na regulação dos preços da energia.
A Agência Internacional de Energia (AIE) também já apelou à OPEP+ para que se situe "do lado bom", desejando que a reunião de quinta-feira permita "aliviar" o mercado.
Mais do que qualquer outro membro do cartel, os sauditas, primeiros exportadores mundiais de petróleo, "não têm interesse em aumentar a sua produção, porque beneficiam dos preços elevados do petróleo e da forte procura", observou Edward Moya.
Por outro lado, não se querem separar da Federação Russa.
Bem longe das considerações de um mercado tenso, uma nítida subida da produção seria na sua essência uma decisão política, eu corresponderia a um alinhamento com a Casa Branca.
Em plena invasão da Ucrânia pela Federação Russa, "qualquer medida que faça com que o petróleo russo deixe de ser uma arma nas mãos de Putin seria vista em Moscovo como uma provocação", considerou um especialista em assuntos geopolíticos energéticos, Philippe Sébille-Lopez, diretor da Géopolia.
Ao contrário, pela sua posição de expectativa, o príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman, permite à Federação Russa "manter o mundo importador (da energia russa) em situação de refém", reforçou Stephen Innes, analista da SPI Asset Management.
Moscovo "conta muito com a utilização da sua influência, principalmente graças aos seus fornecimentos em petróleo e gás natural, para negociar como o Ocidente" e amortecer o choque das sanções, avançou Walid Koudmani, analista da XTB.
Se os EUA, reforçados por outros Estados, como o Reino Unido, decretaram um embargo sobre os hidrocarbonetos russos, isso ainda não foi o caso do Velho Continente, muito mais dependente.
Na realidade, a invasão russa da Ucrânia expôs as falhas da parceria de longa data entre a Arábia Saudita e os EUA", estimou Innes.
Até agora, Riade tem evitado tomar posição contra a Federação Russa, não condenando a invasão e reafirmando o seu compromisso para com a OPEP+.
E a sua estratégia no petróleo "pode ser interpretada como uma mudança de lealdade dos EUA para a Federação Russa". prosseguiu, quando questionado pela AFP.
Durante a sua campanha eleitoral, Joe Biden prometeu que o reino saudita seria tratado como um "pária", depois do assassínio do jornalistas saudita Jamal Khashoggi, morto e desmembrado no consulado saudita em Istambul, em outubro de 2018.
Mas, para Stephen Innes, o centro do problema é o Irão, inimigo dos sauditas, quando os EUA estão envolvidos em negociações com Teerão para reintegrar o acordo sobre o nuclear.
Discussões estas "não necessariamente bem acolhidas pelos sauditas", salientou Bjørnar Tonhaugen, da Rystad Energy.
A retirada dos rebeldes Houthis do Iémen, próximos do Irão, da lista negra dos EUA com 'organizações terroristas' também agravou as relações.
Desde há muito parceiro de Riade, Washington tem tomado progressivamente as suas distâncias neste conflito.
"O príncipe herdeiro colocou-se imprudentemente ao lado do Kremlin, esperando que a Federação Russa o apoie se o Irão e os sauditas se envolverem em conflito" aberto, concluiu Innes.
Leia Também: Petróleo? Há risco da "maior crise de abastecimento" em "décadas"