Sánchez comparou a "reação e o papel" que o executivo assumiu face à crise sanitária com o desempenho atual para mitigar as consequências do que chamou "guerra de Putin" (invasão da Ucrânia pelas forças da Rússia).
No discurso perante os deputados no Parlamento de Madrid, o socialista Pedro Sánchez referiu-se "aos enormes desafios" que a guerra está a provocar, sublinhando a necessidade de ser alcançada "unidade" entre todos os partidos políticos.
Assim, pediu "responsabilidade, inteligência e capacidade de sentido comum" a todas as forças políticas no sentido de "entenderem" a gravidade do momento porque, alertou, a situação é "inédita" e pressupõe "várias possibilidades" que podem ser positivas, mas também "extremamente negativas".
"Não me parece que pedir apoio e unidade no meio de uma pandemia e de uma guerra na Europa seja pedir demasiado", disse o chefe do governo espanhol.
"Em alturas excecionais são necessárias soluções extraordinárias", afirmou Pedro Sánchez, frisando que não perdeu a "esperança" no sentido de conseguir unidade entre os partidos políticos para o "bem da Espanha e da Europa".
A porta-voz do Partido Popular, Cuca Gamarra, já criticou o discurso do primeiro-ministro, afirmando que Sánchez não consegue "unidade" entre os membros do próprio executivo e considerando "insuficiente" o plano do governo face à guerra da Ucrânia, que não incluiu o alívio fiscal que tinha sido anteriormente anunciado.
"O PSOE arruína sempre as classes médias e trabalhadoras e depois vem o PP para consertar as coisas", disse Gamarra.
Em concreto, a porta-voz do PP criticou o governo do PSOE pelo afastamento em relação ao alívio fiscal e ao aumento do preço da eletricidade, ao contrário do que foi negociado com os presidentes das várias regiões autónomas espanholas.
"Concordo consigo, a unidade é muito importante e sobretudo em assuntos externos estaremos presentes. Mas, o que lhe pergunto é se consegue garantir unidade no governo?", questionou Gamarra, referindo-se diretamente à falta de consenso entre membros do Executivo sobre os gastos no setor da Defesa e a recente posição de Madrid sobre o Saara Ocidental.
Para o Partido Popular, o plano do governo face às consequências da guerra na Ucrânia é insuficiente, porque "já se passaram três semanas" sem que o executivo tivesse tomado qualquer medida em relação à "hiperinflação (9,8% em março), perda de poder de compra, encerramento de fábricas, paralisação do setor das pescas e rutura na distribuição de alimentos devido à greve nos transportes".
"O seu governo dividido diabolizou os transportadores que estão desesperados e a trabalhar em situação de prejuízo. Sob qualquer padrão europeu já se devia ter demitido", declarou Gamarra.
Mesmo assim, o PP votou a favor do aumento dos gastos no setor da Defesa e pediu que as cidades autónomas espanholas de Ceuta e Melilla, no norte de África, fiquem sobre a proteção da NATO.
Sobre a nova posição do governo do PSOE face ao Saara Ocidental, a porta-voz do PP disse que Sánchez "acabou" com o consenso que sempre existiu e que no passado "nenhum governo espanhol deixou de procurar uma solução" sobre a questão no quadro das Nações Unidas.
Criticando as posições do governo sobre o Saara Ocidental, antiga possessão espanhola reclamada por Marrocos, Gamarra recordou "as graves consequências" que se verificam atualmente nas relações com a Argélia, um dos fornecedores mais fiáveis de gás a Espanha.
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