"Desenhei os meus medos". Jovem de Mariupol lida com a guerra pela arte

Durante quase duas semanas, Karina e a família esconderam-se, com vizinhos, na cave do seu prédio, sem eletricidade, água ou aquecimento.

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Notícias ao Minuto
01/04/2022 17:10 ‧ 01/04/2022 por Notícias ao Minuto

Mundo

Ucrânia/Rússia

Sob uma Mariupol bombardeada e cercada pelas forças russas, Karina Ivashchenko, de 14 anos, encontrou refúgio na arte. Para si, desenhar tornou-se não só uma distração daquilo que estava a acontecer fora da sua janela, mas também uma maneira de lidar com a invasão russa da Ucrânia.

“Desenhei os meus meus. Tinha medo da guerra. Tinha medo quando [os russos] disparavam na rua. Estávamos sentados na cave e todas as paredes tremiam”, recorda, em entrevista à Reuters.

Durante quase duas semanas, Karina e a família esconderam-se, com vizinhos, na cave do seu prédio, sem eletricidade, água ou aquecimento. Conseguiram, entretanto, fugir para a Polónia.

“Quando saí da cave e olhei para a rua, todas as casas estavam em chamas. Fumo preto em todo o lado. Todas as casas, todos os vidros - tinham simplesmente desaparecido. Foi muito assustador. Nunca vi nada assim. Foi um inferno”, adianta.

Nos seus desenhos, que pode ver na galeria acima, a jovem expressa os seus sentimentos, pensamentos e experiências, retratando-se como se fosse uma personagem de um desenho animado. Enquanto algumas ilustrações mostram os sons da guerra, outras dão um vislumbre do dia a dia na Ucrânia.

Karina conseguiu encontrar um canto seguro na Cracóvia, com a mãe, a avó, e o avô. O pai, por sua vez, teve de ficar para trás. Pela primeira vez em algum tempo, a jovem sente-se segura e diz não “haver necessidade de desenhar mais”.

Recorde-se que, segundo a Ucrânia, pelo menos cinco mil pessoas foram mortas em Mariupol desde o início da invasão russa. De uma população de 450 mil pessoas, cerca de 160 mil ainda lá estão encurraladas, de acordo com o presidente da câmara, Vadim Boïtchenko.

Apesar de Kyiv ter anunciado a abertura de nove corredores humanitários esta sexta-feira, que incluíam Mariupol, as autoridades locais continuam a dizer que não é possível entrar nesta cidade sitiada e que é perigoso para os civis tentarem sair por sua conta, insistindo que permanecem isolados.

Mariupol está cercada desde o final de fevereiro, obrigando milhares de pessoas a viver sem eletricidade, água potável ou comida. A cidade portuária é um alvo estratégico para Moscovo, visto que a sua tomada permitirá fazer a ligação entre a Crimeia, anexada em 2014, e as regiões separatistas pró-russas de Donetsk e Lugansk, no leste do território ucraniano.

A Rússia lançou a 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que matou pelo menos 1.276 civis, incluindo 115 crianças, e feriu 1.981, entre os quais 160 crianças, segundo os dados mais recentes da Organização das Nações Unidas (ONU), que alerta para a probabilidade de o número real de vítimas civis ser muito maior.

A guerra provocou a fuga de mais de 10 milhões de pessoas, incluindo mais de 4,1 milhões de refugiados em países vizinhos e cerca de 6,5 milhões de deslocados internos. Além disso, a ONU estima que cerca de 13 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária na Ucrânia.

A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.

Leia Também: Ucrânia. Reconstruir Mariupol custará mais de nove mil milhões de euros

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