Rússia tem propagado desinformação na América Latina sobre o conflito

A Rússia tem disseminado informações falsas na América Latina sobre o conflito russo-ucraniano, advertindo os utilizadores de redes sociais que o maior problema são os Estados Unidos, de acordo com uma investigação da agência de notícias AP.

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© Sergei Guneyev\TASS via Getty Images

Lusa
02/04/2022 06:34 ‧ 02/04/2022 por Lusa

Mundo

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"Nunca se esqueçam de quem é a verdadeira ameaça do mundo", diz uma manchete.

O artigo, publicado no final de fevereiro no Twitter pela versão espanhola da cadeia de televisão russa RT (RT en Español), é destinado a um público localizado a milhares de quilómetros de distância da guerra na Ucrânia.

À medida que o conflito avança, a Rússia está a lançar informações falsas nas redes sociais de utilizadores falantes de espanhol em países que já têm longos registos de desconfiança dos Estados Unidos.

Embora muitas das alegações tenham sido desacreditadas, estão a espalhar-se amplamente na América Latina e a ajudar a tornar os meios controlados pelo Kremlin em algumas das principais fontes de informação em espanhol sobre a invasão russa da Ucrânia.

O 'site' na Internet do canal RT en Español é agora o terceiro mais partilhado no Twitter para informações em espanhol sobre o assunto.

"O sucesso do RT deve ser preocupante para qualquer pessoa preocupada com o sucesso da democracia", disse o professor da Universidade do Texas Samuel Woolley, que investiga a desinformação.

"O RT é voltado para o controlo autoritário e, dependendo do contexto, nacionalismo e xenofobia. O que corremos é o risco de a Rússia ganhar o controlo de uma fatia cada vez maior do mercado de olhares", observou.

As empresas de tecnologia sediadas nos Estados Unidos tentaram conter a capacidade dos meios de comunicação russos de propagar propaganda após a invasão, proibindo aplicações vinculativas aos meios de comunicação, rebaixando o conteúdo e rotulando a imprensa estatal. A União Europeia (UE) baniu o RT e a agência de notícias estatal Sputnik.

No entanto, o conteúdo cresce em 'sites' em espanhol, em janelas de mensagens e em páginas de redes sociais.

Apesar de a Rússia também criar propaganda em idiomas como inglês, árabe, francês e alemão, obteve sucesso particular com utilizadores de língua espanhola, segundo a investigação de Esteban Ponce de Leon, analista de Bogotá (Colômbia), da Atlantic Council's Digital Forensic Research Lab (DFRLab), um 'think tank' de Washington que recebe financiamento dos Estados Unidos e de outros governos.

As alegações desconsideradas da Rússia sobre a Ucrânia e os Estados Unidos abrangem argumento de que a invasão foi necessária para confrontar neonazis, ou a Casa Branca apoiou secretamente investigação de guerra biológica em território ucraniano.

De facto, os Estados Unidos há muito tempo fornecem financiamento público para laboratórios biológicos na Ucrânia que estudam patógenos com a esperança de conter surtos de doenças perigosas.

Este tipo de desinformação pode propagar-se facilmente da América Latina para outros países -- incluindo os Estados Unidos -- que possuem grandes comunidades de língua espanhola. Às vezes, é transmitido entre familiares que podem estar a partilhar as reivindicações entre continentes.

"Existem caminhos diferentes em que o RT está a aliciar de forma ativa as comunidades na América Latina e nos Estados Unidos", adiantou o investigador da empresa Equis Labs Jacobo Licona.

"Esta é a parte da razão pela qual o RT tem sido tão eficaz, construíram esta rede ou comunidade antes do tempo", acrescentou.

Como uma das línguas mais faladas do mundo, o espanhol é do interesse óbvio par qualquer governo ou organização que pretenda moldar a opinião pública global.

Porém, o interesse da Rússia na língua espanhol vai além, refletindo a importância histórica e estratégica da América Central e do Sul durante a Guerra Fria, lembrou o analista Ponce de Leon, da DFRLab.

Durante décadas, a União Soviética procurou explorar as tensões históricas entre os Estados Unidos e a América Latina, apoiando fações comunistas e países, como Cuba.

A Rússia tentou retratar os Estados Unidos como um império colonizador, mesmo quando o Kremlin trabalhou para fortalecer os seus próprios laços com o hemisfério.

O serviço em espanhol do RT começou em 2009, quatro anos após a versão em inglês. Ganhou terreno rapidamente e agora é muito mais popular do que a sua contraparte inglesa. O RT em Español tem mais de 16 milhões de seguidores na sua página do Facebook, quase o triplo do número da página em inglês.

Leia Também: Representante ucraniana acusa Rússia de usar crianças como "escudos"

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