Todos os 26 ministros do Executivo entregaram as suas demissões no domingo à noite, depois de milhares de pessoas terem desafiado o estado de emergência e o recolher obrigatório no país e se terem juntado aos protestos de rua contra o governo.
Numa declaração emitida hoje pelo seu gabinete, o Presidente do Sri Lanka, Gotabaya Rajapaksa, convida "todos os partidos políticos representados no Parlamento a juntarem-se para aceitarem as pastas ministeriais, a fim de encontrar soluções para esta crise nacional".
Foco da ira da população são o Presidente, o seu irmão mais velho Mahinda Rajapaksa, atual primeiro-ministro, e toda a sua poderosa família política.
Dois outros irmãos - o ministro das Finanças, Basil Rajapaksa, e o ministro da Irrigação, Chamal Rajapaksa - estão entre os demissionários, juntamente com o filho do primeiro-ministro, o ministro do Desporto Namal Rajapaksa.
Estas demissões foram vistas como um esforço para pacificar a ira pública contra os Rajapaksas, mantendo simultaneamente na família os poderes executivo, legislativo e de defesa.
O maior partido da oposição, a Força Popular Unida (SJB, na sigla original), rejeitou imediatamente a proposta do Presidente para um governo de unidade.
"O povo deste país quer que Gotayaba e toda a família Rajapaksa saiam e não podemos ir contra a vontade do povo e não podemos trabalhar ao lado de corruptos", disse um alto funcionário do SJB, Ranjth Madduma Banadara, à agência Associated Press.
A SJB tem 54 deputados no Parlamento de 225 membros.
A rejeição do pedido do Presidente é suscetível de resultar em incertezas e manifestações, que hoje voltaram a realizar-se em todo o país.
A polícia utilizou um canhão de água para dispersar os manifestantes que marcharam em direção à residência da família Rajapaksa, no sul do Sri Lanka, exigindo à família do Presidente que abandone o poder.
Entretanto, o Presidente empossou quatro ministros temporários para continuar as principais funções governamentais de Negócios Estrangeiros e Finanças, e ajudar a liderar o grupo parlamentar do partido no poder.
Um alto funcionário do Banco Central, que foi acusado de má gestão económica, também se demitiu hoje.
Com o aumento dos protestos e os apelos à demissão, Rajapaksa assumiu por decreto poderes de emergência, à meia-noite de sexta-feira, tendo o governo declarado um recolher obrigatório em todo o país, que foi levantado hoje de manhã.
A declaração de emergência dá-lhe amplos poderes para proteger a ordem pública, reprimir manifestações, motins ou distúrbios civis ou para a manutenção de abastecimento de produtos essenciais.
Nos termos do decreto, o Presidente pode autorizar detenções, apreensões de bens e buscas a instalações, e ainda alterar ou suspender qualquer lei, exceto a Constituição.
Durante 15 horas, as autoridades bloquearam o acesso às redes sociais Facebook, Twitter, YouTube, WhatsApp e outras plataformas que foram usadas para organizar as manifestações.
Durante vários meses, a população sofreu com longas filas para comprar combustível, gás de cozinha, comida e medicamentos, a maior parte dos quais vem do estrangeiro e é paga em moeda forte.
A escassez de combustível tem causado cortes de energia que duram várias horas por dia.
A extensão da crise tornou-se clara quando o país não pôde pagar as importações de produtos essenciais devido às enormes dívidas e à diminuição de reservas estrangeiras.
As reservas estrangeiras utilizáveis do país são, segundo os especialistas, inferiores a 400 milhões de dólares (363 milhões de euros), e só para este ano o país tem quase 7.000 milhões de dólares (6.360 milhões de euros) em obrigações relacionadas com a sua dívida externa.
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