O outro quadro é propriedade de um museu ucraniano, pelo que corre riscos de ser danificado, noticia a agência France Presse (AFP).
Um terceiro quadro está a ser objeto de avaliação, quanto a retenção em França, segundo o ministério francês da Cultura.
Exposta desde setembro passado na Fundação Louis Vuitton, foi a primeira vez que esta coleção, constituída por obras de Van Gogh, Cézanne, Matisse, e de pintores russos como Malevitch e Répine, deixou a Rússia para ser exposta no estrangeiro.
Na inauguração da mostra, onde esteve presente a ministra russa da Cultura, Olga Lioubimova, o Presidente francês, Emmanuel Mácron, disse acreditar "muito profundamente" que a iniciativa iria "ajudar a convencer milhões dos concidadãos do que é comum e inseparável" entre franceses e russos.
Após o encerramento da mostra, no passado domingo, e numa altura em que decorriam os trabalhos de desmontagem, o Ministério da Cultura de França disse que dois quadros permaneceriam no país.
O primeiro, porque "o seu proprietário, um oligarca russo, continua sujeito a congelamento de bens", indicou o Ministério, sem indicar obra nem dono.
A agência France Presse identificou, entretanto, a obra retida como um autorretrato do pintor russo Piotr Kontchalovski (1876-1956), uma obra de 1911 do pintor que é considerado o "Cézanne russo", e o seu proprietário como Petr Aven, um oligarca próximo de Putin, que figura na lista das personalidades do regime objeto de sanções por parte da União Europeia.
O milionário, que, em meados de março, anunciou a sua retirada do fundo de investimento LetterOne, é um conhecido colecionador de arte, tendo já emprestado várias das peças que detém a instituições como o Museu de Arte Moderna de Nova Iorque (MoMA) e à Academia Real de Londres.
O segundo quadro retido em França é um retrato de Margarita Morozova do pintor Serov (1875-1911), que pertence ao Museu das Belas-Artes de Dnipropetrovsk, na zona oriental da Ucrânia, o que o coloca em risco de ser danificado.
Um terceiro quadro, "de uma fundação privada, ligada a outro oligarca cujo nome foi adicionado à lista de personalidades atingidas pelo congelamento de bens", está a ser alvo de estudo pelos serviços do Estado, acrescentou o ministério francês.
Esta obra provém da fundação Magma, do oligarca Viatcheslav Kantor. Trata-se igualmente de um quadro de Serov, um retrato de um elemento da família Morozov, que também esteve patente na mostra, como noticia a France Presse.
Questionada pela agência, a Fundação Louis Vuitton disse que "respeitará a decisão do Governo".
Perto de 200 obras de Van Gogh, Gauguin, Renoir, Cézanne, Matisse, Bonnard, Monet ou Manet foram exibidas na mostra que abriu em 22 de setembro de 2021 na Fundação Louis Vuitton, eme Paris, que também envolveu trabalhos de pintores russos como Golovine, Gontcharova, Korovine, Machkov, Malevitch, Melnikov, Répine e Serov.
Estas obras-primas foram reunidas pelos dois irmãos Mikhail e Ivan Morozov, constituindo uma coleção centrada sobretudo em arte moderna da viragem do século XIX para o século XX.
A maioria das obras deve ser devolvida às instituições originais, principalmente o Museu Pushkin e a Galeria Tretyakov, em Moscovo, e o Museu Hermitage, em São Petersburgo.
No quadro das sanções europeias, os Estados-membros da União Europeia podem derrogar a proibição de transferência e exportação de obras de arte para a Rússia se estas tiverem sido emprestadas no contexto da cooperação cultural oficial com a Rússia, disse o ministério francês da Cultura.
A mostra atraiu mais de um milhão de visitantes, apesar das restrições sanitárias. Os números finais são esperados para o início da próxima semana.
A retenção destes dois quadros acontece três dias depois de as autoridades finlandesas terem apreendido várias obras de arte de museus russos, que transitaram pelo país, no âmbito das sanções europeias contra Moscovo.
Na quarta-feira, as autoridades finlandesas anunciaram a apreensão de várias obras de arte de museus russos, no âmbito das sanções europeias contra Moscovo, no valor de mais de 40 milhões de euros.
A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que matou pelo menos 1.626 civis, incluindo 132 crianças, e feriu 2.267, entre os quais 197 menores, segundo os mais recentes dados da ONU, que alerta para a probabilidade de o número real de vítimas civis ser muito maior.
A guerra já causou um número indeterminado de baixas militares e a fuga de mais de 11 milhões de pessoas, das quais 4,3 milhões para os países vizinhos.
Esta é a pior crise de refugiados na Europa desde a II Guerra Mundial (1939-1945) e as Nações Unidas calculam que cerca de 13 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária.
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.
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