"Em relação à troca proposta com tanto ardor e alegria por diferentes personalidades de Kyiv, Medvedchuk não é um cidadão russo, é um político estrangeiro, e não tem qualquer ligação com a operação militar especial [na Ucrânia]", disse hoje o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, em conferência de imprensa.
"Além disso, nem sabemos se ele próprio quer que a Rússia participe de alguma forma na resolução da situação em que se encontra", acrescentou Peskov.
A detenção de Medvedchuk foi anunciada na terça-feira pelo Presidente ucraniano na rede de mensagens Telegram, após o empresário ter fugido da prisão domiciliária em que se encontrava a 24 de fevereiro, dia em que começou a "operação militar especial" russa na Ucrânia.
Horas depois da divulgação da detenção, Zelensky propôs à Rússia a sua troca por ucranianos capturados pelas forças russas na Ucrânia.
"Proponho à Federação Russa que troque este seu homem pelos nossos filhos que estão agora em cativeiro russo", disse Zelensky no discurso divulgado habitualmente à noite na página oficial da presidência.
Medvedchuk, de 67 anos, estava em prisão domiciliária desde maio de 2021, acusado de alta traição por revelar segredos de Estado, fazer negócios na península ucraniana anexada da Crimeia e com separatistas pró-Rússia em Donbass, trabalhar para a Rússia e ter "laços fortes" com o Presidente russo, Vladimir Putin.
Em 26 de fevereiro, dois dias após o início da invasão russa da Ucrânia, a polícia ucraniana notificou o seu desaparecimento durante uma visita de controlo.
Putin é padrinho de uma das filhas de Medvedchuk, considerado a 12.ª pessoa mais rica da Ucrânia pela revista Forbes em 2021, com uma fortuna de 620 milhões de dólares (cerca de 572 milhões de euros).
Viktor Medvedchuk é fundador do partido pró-Rússia Plataforma da Oposição -- Pela Vida, que tinha 34 dos 450 deputados ao parlamento ucraniano antes de ser banido em março.
Segundo o porta-voz do Kremlin, Medvedchuk foi alvo de um "processo político" com base em "acusações imaginárias", até porque "a pessoa em questão sempre se manifestou pela paz, contra a guerra [na região de Donbass, que eclodiu em 2014] e contra a expansão do conflito".
A sua posição, defendeu Dmitri Peskov, "sempre foi pública e nunca manteve relações de bastidores com a Rússia. Se isso tivesse acontecido, certamente Medvedchuk teria deixado a Ucrânia antes da operação militar".
De acordo com o porta-voz do Kremlin, "se as ideias de Medvedchuk e as ideias do seu partido tivessem sido levadas em consideração ou servissem como base da política estatal da Ucrânia, não teria havido nenhuma operação militar especial" no país.
"Vamos, com certeza, seguir o destino de Viktor Medvechuk de perto e exortamos os políticos europeus a fazer o mesmo, já que se preocupam tanto com a liberdade de expressão e em não perseguir pessoas por motivos políticos", referiu ainda, considerando que "o que aconteceu com Medvedchuk é uma demonstração brilhante do que o regime de Kyiv representa".
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