De acordo com o plano, anunciado na semana passada pelo chefe do executivo britânico, Boris Johnson (Partido Conservador), o Reino Unido irá transferir os requerentes de asilo que atravessam o Canal da Mancha para o Ruanda como parte de uma nova estratégia de combate à imigração ilegal e aos grupos criminosos que a apoiam.
Falando no parlamento, May, agora deputada conservadora e que também foi ministra do Interior, deixou claro que não apoia o plano tendo em conta "os princípios da legalidade, praticidade e eficácia".
Questionando a base jurídica da estratégia, a antiga primeira-ministra conservadora exigiu "provas" para mostrar que o controverso plano de imigração "não conduzirá simplesmente a um aumento do tráfico de mulheres e crianças", uma vez que a intenção do governo é aplicá-lo apenas a homens adultos.
Em resposta a May, a ministra do Interior, Priti Patel, defendeu a sua política, sublinhando que é "um golpe para os traficantes de seres humanos e o seu comércio perverso de mercadoria humana".
A governante sustentou que o plano é "coerente" com "todas as obrigações nacionais e internacionais".
"As Nações Unidas têm usado o Ruanda durante vários anos para reinstalar refugiados. E, é claro, foi a União Europeia [UE] que primeiro financiou isto", disse.
O plano do Governo britânico passa por reenviar homens solteiros que chegam ao Reino Unido provenientes do outro lado do Canal da Mancha em pequenas embarcações, fazendo-os voar 6.400 quilómetros até ao Ruanda, enquanto os seus pedidos de asilo são processados.
No âmbito do acordo, inspirado nos que se aplicam na Austrália e em Israel, Londres financiará inicialmente o dispositivo no valor de 120 milhões de libras (144 milhões de euros) e o Governo ruandês esclareceu que ofereceria a possibilidade aos migrantes "de se estabelecerem permanentemente no país, se assim o desejarem".
A iniciativa foi criticada pela Igreja anglicana, políticos e pela ONU, através do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), que expressou, no dia do anúncio, a sua "forte oposição" ao plano britânico.
"Pessoas que fogem de guerras, conflitos e perseguições merecem compaixão e empatia. Elas não devem ser comercializadas como mercadorias e levadas para o exterior para tratamento", disse então Gillian Triggs, alta-comissária adjunta do ACNUR, responsável pela proteção internacional.
Mais de 160 organizações não-governamentais classificaram a medida como "cruel e mesquinha", tendo sido também criticada por alguns deputados conservadores, enquanto o líder da oposição trabalhista, Keir Starmer, a apelidou de "impraticável" e com custos "exorbitantes".
Os migrantes há muito que chegam ao Reino Unido através do norte de França, seja escondidos em camiões ou em ferries, ou - cada vez mais desde que a pandemia de covid-19 fechou outras rotas em 2020 - em jangadas e pequenas embarcações, em travessias organizados por traficantes.
Mais de 28.000 pessoas entraram no Reino Unido em pequenas embarcações no ano passado, contra 8.500 em 2020 e apenas 300 em 2018. O registo de mortes não tem parado de aumentar.
Os governos britânico e francês trabalharam durante anos para impedir as viagens através do canal, sem grande sucesso, trocando frequentemente acusações sobre quem é o culpado do fracasso.
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