O ministro da Integração da Dinamarca, Mattias Tesfaye, visitou o Ruanda no ano passado, onde assinou um convénio para estreitar a cooperação entre os dois países em matéria de imigração, abrindo a porta à construção de um hipotético centro de acolhimento no território do parceiro africano.
"A Dinamarca tem uma boa cooperação com o Ruanda", afirmou Tesfaye à agência espanhola Efe, via e-mail, acrescentando que se tem mantido "um diálogo estreito para reforçar ainda mais" a colaboração negociada com o Governo ruandês nos acordos da altura.
O ministro assegurou que não se celebraram novos convénios, sublinhando a importância de continuar as conversações com as autoridades do Ruanda e as restantes forças parlamentares dinamarquesas de forma "confidencial".
O Parlamento da Dinamarca aprovou, em junho de 2021, uma lei que permite a criação de centros de acolhimento no estrangeiro para os quais se poderão transferir os requerentes de asilo que chegam ao país, enquanto os seus processos são tratados.
O diploma, aprovado com o voto do Partido Social-Democrata, no poder, e de toda a oposição de direita, foi criticado pela ala esquerda, por várias organizações não-governamentais e pelo Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), que questionaram a sua legalidade.
Tesfaye convocou, para o próximo dia 28, uma reunião com os responsáveis por imigração e estrangeiros de todas as bancadas parlamentares, de forma a discutir uma ampla reforma do sistema de asilo.
A agência Efe refere que a imprensa dinamarquesa não prevê, contudo, que se discuta um eventual acordo sobre a construção de centros de acolhimento.
Não obstante, para Mattias Tesfaye, o diálogo com o Governo do Ruanda deverá assegurar "uma abordagem mais humana do que a rede de traficantes de pessoas que marca o fluxo migratório no Mar Mediterrâneo".
O plano apresentado na semana passada pelo primeiro-ministro inglês, Boris Johnson, que ainda terá de passar no Parlamento britânico, prevê o transporte para o Ruanda dos requerentes de asilo que cruzem o Canal da Mancha como forma de combater a imigração ilegal e os gangues criminosos que exploram as pessoas em busca de refúgio.
Por sua vez, o Governo da Dinamarca considera o atual sistema de asilo europeu como "insustentável" e vê no acordo entre Londres e Kigali "um bom passo em frente".
"Espero que mais países europeus num futuro próximo apoiem a visão de atacar a imigração irregular através de acordos com países de fora da Europa", concluiu Tesfaye.
O país nórdico, que não integra a política comunitária de justiça e imigração da União Europeia, promove há duas décadas uma linha dura, mantida por governos de esquerda e de direita.
O anterior executivo liberal-conservador de Lars Løkke Rasmussen (2015-2019) acentuou esta política face à crise dos refugiados na Europa, com o apoio firme do Partido Social-Democrata, dirigido por Mette Frederiksen, primera-ministra há três anos.
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