O chefe de Estado reprimiu violentamente a imprensa e a sociedade civil desde a sua reeleição em 2020, uma ação que levou à detenção de mais de 1.000 pessoas.
"Este prémio é para todos os jornalistas independentes bielorrussos que continuaram a trabalhar nos últimos dois anos, apesar de toda a pressão, proibições de publicação e prisões", disse o presidente da AJB, Andreï Bastunets, que fugiu do país em 2021 e se encontra em lugar desconhecido.
"É muito inesperado", exultou Andreï Bastunets com o anúncio do prémio da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), concedido pela primeira vez em 25 anos a um coletivo.
Fundada em 1995, em reação à ascensão de Alexander Lukashenko ao poder um ano antes, e com 1.300 membros, a AJB lutou para preservar a liberdade de imprensa na Bielorrússia, mas foi forçada a encerrar as suas atividades durante a onda de repressão que ocorreu no verão passado.
De acordo com dados da AJB, mais de 24 jornalistas estão atualmente atrás das grades na Bielorrússia.
"Praticamente todos os meios de comunicação independentes na Bielorrússia foram banidos devido ao seu caráter 'extremista', bloqueados no país e só podem ser vistos através de uma VPN [rede privada virtual]. Muitos [jornalistas] deixaram a Bielorrússia, mas outros continuam a trabalhar, a escrever para órgãos de comunicação social estrangeiros", explicou Andreï Bastunets.
"(...) O facto de alguns ficarem prova a sua coragem. Qualquer líder autoritário visa controlar a informação. Houve uma pressão constante desde o momento em que ele [Lukashenko] chegou ao poder", acrescentou.
O Prémio Guillermo Cano, cuja cerimónia oficial de entrega irá acontecer em 02 de maio no Uruguai, tem o nome do jornalista colombiano Guillermo Cano Isaza, assassinado em 1986 em Bogotá.
"Mais uma vez, o exemplo deles inspira-nos e lembra-nos da importância de garantir que os jornalistas, onde quer que estejam, possam trabalhar com liberdade e segurança", disse a diretora-geral da UNESCO, Audrey Azoulay.
De acordo com relatos da AJB e de outros grupos ativistas, a repressão aos jornalistas na Bielorrússia tem continuado.
Katsiarina Andreïeva, jornalista do canal televisivo Belsat com sede na Polónia, foi acusada este mês de traição e pode ser condenada até 15 anos de prisão. O seu julgamento vai começar em maio.
A editora-chefe do semanário Novy Tchas, Oksana Kolb, foi presa na semana passada por perturbar a ordem pública, segundo AJB.
A sua prisão foi condenada na terça-feira pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros de França, que elogiou a luta da jornalista para manter informações confiáveis na Bielorrússia.
"Este procedimento é uma nova ilustração da política de repressão contínua levada a cabo pelas autoridades bielorrussas contra os meios de comunicação independentes e qualquer forma de oposição ao regime ilegítimo de Alexander Lukashenko", denunciou a diplomacia francesa.
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