Numa reunião convocada pela Rússia, subordinada ao tema "Violações sistemáticas e graves em massa do direito internacional humanitário, bem como outros crimes de guerra cometidos por militares e milícias ucranianas e descobertos no decorrer da operação militar especial em curso das forças armadas russas", Vassily Nebenzia apresentou um conjunto de vídeos e de imagens como alegadas provas das ações de Kiev contra o seu próprio povo.
A missão russa junto da Organização das Nações Unidas (ONU) apresentou, por exemplo, vídeos com depoimentos de cidadãos ucranianos que acusavam as tropas da Ucrânia de os impedir de sair de cidades como Mariupol, no leste do país, e de destruir vários edifícios residenciais.
Além de vídeos, vários jornalistas e fotógrafos de diferentes nacionalidades foram convidados pelo diplomata russo para apresentar as suas versões da cobertura da guerra.
De acordo com a Rússia, o encontro de hoje visava proporcionar uma oportunidade de ouvir jornalistas independentes localizados no leste da Ucrânia.
Participaram na reunião, por videoconferência, Anne-Laure Bonnel, uma jornalista francesa; Asya Zuan, jornalista do NewsFront, um portal de notícias que o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos descreveu como "um meio de desinformação e propaganda com base na Crimeia e focado em apoiar as forças apoiadas pela Rússia na Ucrânia", e Giorgio Bianchi, fotojornalista e cineasta italiano, entre outros profissionais convidados pelo representante de Moscovo.
Nos seus depoimentos, os jornalistas e repórteres fotográficos argumentaram que a imprensa tradicional ocidental é tendenciosa e que a Europa faz propaganda e divulga desinformação contra Moscovo.
Com esta reunião, a missão da Rússia junto da ONU pretendeu responder às acusações de que as suas tropas têm matado e torturado indiscriminadamente civis, atacado infraestruturas civis como escolas e hospitais, cometido violência sexual, deportado civis -- incluindo crianças desacompanhadas -- para território russo e detido ilegalmente funcionários do governo local e jornalistas em várias partes da Ucrânia.
No final da exposição russa, vários diplomatas, de países como Índia ou México, reforçaram a importância de se efetuar uma investigação independente aos crimes cometidos durante o conflito.
Já os embaixadores da Albânia e da França preferiram destacar que a Rússia continua o seu ataque à Ucrânia, causando uma enorme devastação, e acusaram Moscovo de voltar a usar a ONU para divulgar desinformação.
"Participo neste encontro organizado pela missão russa para transmitir uma mensagem simples: a Rússia não conseguirá transformar em realidade as fantasias que usa para justificar as atrocidades na sua guerra de agressão contra a Ucrânia", disse o diplomata francês, Nicolas de Riviere.
"Diante dessas escandalosas manobras de desinformação, nós, nas Nações Unidas, devemos confiar, antes de tudo, nos factos estabelecidos pelos órgãos competentes do sistema das Nações Unidas. A Assembleia-Geral denunciou repetida e vigorosamente a agressão da Rússia em violação da Carta da ONU", acrescentou Riviere.
Para o diplomata francês, esta reunião tratou-se de uma "corrida precipitada" da Rússia "para justificar o que não pode ser justificado", "recorrendo aos piores ultrajes".
Quer o embaixador francês, quer da Albânia, pediram que a Rússia seja levada à justiça pelos crimes cometidos na Ucrânia.
A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que já matou mais de três mil civis, segundo a ONU, que alerta para a probabilidade de o número real ser muito maior.
A ofensiva militar causou a fuga de mais de 13 milhões de pessoas, das quais mais de 5,5 milhões para fora do país, de acordo com os mais recentes dados da ONU.
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.
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