"O Kremlin vai falar de desnazificar ainda mais a Ucrânia"

As comemorações do Dia da Vitória, que a Rússia assinala a 9 de maio, poderão marcar o início da mobilização total de russos para irem combater na Ucrânia, disse à Lusa a cientista política ucraniana Nataliia Kasianenko. 

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© Chris McGrath/Getty Images

Lusa
08/05/2022 07:52 ‧ 08/05/2022 por Lusa

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Ucrânia

"Poderá ser o anúncio da mobilização obrigatória para a guerra na Ucrânia", afirmou a especialista, professora do departamento de Ciência Política na Universidade Estadual da Califórnia em Fresno.

A ocasião, afirmou, poderá também servir para o "Kremlin mudar a sua narrativa, afastando-se da descrição atual de operação militar especial e falando abertamente de guerra". 

O Dia da Vitória marca o triunfo dos soviéticos sobre a Alemanha nazi, em 1945, e no contexto da atual invasão da Ucrânia é esperado um "grande anúncio" por parte do presidente Vladimir Putin. 

"O Kremlin vai falar de desnazificar ainda mais a Ucrânia e fazer este esforço final, sendo necessária a mobilização total da população para terminar o que a Rússia começou a 24 de fevereiro e aniquilar o que chama de fascismo ou nazismo na Ucrânia", explicou Nataliia Kasianenko. 

A cientista política é natural de Carcóvia (Kharkiv), no leste da Ucrânia e a 40 km da fronteira, onde "ninguém acreditava nos relatos vindos do Ocidente que sugeriam que a Rússia ia começar esta guerra". A maioria dos habitantes na região fala russo e mantém ligações familiares extensas na Rússia, como é o caso da família de Kasianenko. 

"Diziam que nunca atacariam civis, muito menos falantes de russo e membros da igreja ortodoxa russa", recordou. 

Agora, a entrar no terceiro mês de guerra, o consenso entre analistas é de que não só não haverá uma redução da intensidade do conflito como este irá escalar, apesar das dificuldades da invasão. 

"A Rússia conseguiu tomar o controlo de alguns locais, mas isso não é grande o suficiente para que Putin justifique a morte de milhares de soldados e os custos económicos desta guerra", disse Kasianenko. "Precisa de um ponto de passagem através do sul da Ucrânia para a Crimeia e de ocupar mais território". 

Por esse motivo, as tentativas de negociação deverão continuar a falhar. "Será muito difícil chegar a algum desfecho por via diplomática sem que a Ucrânia perca parte do território. E mesmo com essa ideia em mente, não parece que por ora o presidente Putin esteja interessado em acabar a guerra". 

A professora frisou que tal chocaria com a narrativa que o governo russo tem defendido nos meios de comunicação estatais, de que a Rússia está a lutar pela sua sobrevivência e que há uma ameaça à sua segurança. "Seria impossível terminar isto de forma abrupta e assinar um acordo de paz, porque os políticos e uma grande percentagem da população veriam isso como uma capitulação da Rússia".

No entanto, a analista afasta a possibilidade de um "conflito congelado", prevendo que a Rússia vai intensificar os bombardeamentos e que a Ucrânia continuará a resistir, apoiada pelos meios enviados pelo Ocidente. "O consenso é de que está para durar", avisou. 

Em Carcóvia??????? (Kharkiv), onde se mantém parte da família de Kasianenko depois dos seus pais terem sido retirados através da Polónia rumo aos Estados Unidos, há uma fadiga crescente com o conflito. 

"Há pessoas em Carcóvia??????? já só querem que os bombardeamentos e tiroteios parem, e não querem saber se o presidente da câmara é russo ou ucraniano", contou. "Pode ser uma opinião minoritária, mas o que querem é paz". 

A dificuldade, mesmo nas cidades que estão sob domínio russo, será perceber como as forças invasoras poderão manter o controlo a longo prazo. "Ocupar estes territórios é uma coisa, mas mantê-los depois de cometer estas atrocidades contra civis é muito diferente", indicou a analista. 

Tentar perceber o objetivo final é ainda mais complexo. "Como cientista política, tenho estado muito confusa sobre o que é que Putin está a tentar alcançar". 

Ainda que admita que o chefe do Kremlin estará alheado da realidade e a ser mal informado, afasta a ideia de que ele está louco ou é irracional. Por isso, considera baixa a possibilidade de que venham a ser usadas armas nucleares. 

"Mas não está completamente fora de questão", ressalvou. "Também não fomos capazes de prever que invadiria". 

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