Hélène Perlant, a filha mais velha do primeiro-ministro francês, François Bayrou, revelou ter sido vítima de agressões quando era adolescente, durante um acampamento de verão em Bétharram, nos Pirenéus Atlânticos, há cerca de 30 anos. Numa entrevista, a mulher garantiu que não denunciou a agressão ao pai, que está "de coração partido" com as declarações.
As agressões ocorreram num acampamento de verão organizado pela mesma congregação à qual pertence o estabelecimento católico Notre-Dame de Bétharram, alvo de denúncias de abusos físicos e sexuais há várias décadas. Um crime de violação cometido por um clérigo da instituição ocorreu em 1998, quando François Bayrou era ministro da Educação.
"Numa noite, quando estávamos a desempacotar os nossos sacos-cama, o [padre] Lartiguet agarrou-me de repente pelos cabelos, arrastou-me pelo chão durante vários metros, depois deu-me murros e pontapés por todo o lado, especialmente no estômago", contou Hélène Perlant, atualmente com 53 anos, à revista francesa Paris Match.
"Fiz xixi nas calças e fiquei assim toda a noite, húmida e enrolada numa bola no meu saco-cama", acrescentou.
A mulher afirmou que esteve "em silêncio durante 30 anos" e nunca contou o que se tinha passado ao pai. "Talvez inconscientemente eu quisesse proteger o meu pai dos golpes políticos que ele estava a receber localmente", disse.
Duas pessoas próximas de Bayrou, citadas pela imprensa francesa, afirmaram que o primeiro-ministro francês está "de coração partido" e em "choque" depois de saber do incidente.
Já em conferência de imprensa, adiantou: "Enquanto pai, isto é uma faca no coração. (...) Que não o tenhamos sabido e que tenha acontecido. Para mim, é insuportável".
Mas "ela não é o centro do caso" e "isto não é um assunto pessoal". E, acrescentou, "enquanto responsável público, que ultrapassa o pai de família, é nas vítimas que penso. (...) E não as quero abandonar".
Hélène Perlant é uma das cerca de 200 pessoas que deram o seu testemunho no livro de Alain Esquerre, porta-voz do coletivo de vítimas de Notre Dame de Bétharram, que será lançado na quinta-feira.
Bayrou vai ser ouvido em maio, enquanto antigo ministro da Educação (1993-1997), pela comissão parlamentar de inquérito sobre violência e controlo do Estado nas escolas.
Acusado pela esquerda de ter mentido sobre as violências e agressões sexuais no liceu de Bétharram, Bayrou negou quaisquer mentiras, falando de "polémicas artificiais".
"Penso que François Bayrou mentiu", disse o deputado da França Insubmissa (LFI, esquerda radical) e correlator da comissão Paul Vannier, na sequência da audição de um antigo polícia, de acordo com o qual um magistrado lhe falou de "uma intervenção" de Bayrou quando investigava as acusações de violação contra um clérigo da instituição em 1998.
Desde o início de fevereiro, Bayrou foi acusado por várias testemunhas de ter sido alertado para atos de violência cometidos em Notre-Dame de Bétharram e acusado de ter minimizado o conhecimento do caso perante os deputados.
[Notícia atualizada às 21h55]
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