Gabriel Obiang Lima, que falava à Lusa à margem da 8.ª edição do Congresso e Exposição de Petróleo Africano (CAPE VIII, na sigla inglesa), que decorre em Luanda, afirmou que o principal desafio que se coloca neste momento aos produtores africanos é a criação de um mercado próprio.
"O mercado tem sido controlado por diferentes lugares: Europa, América. Temos estado dependentes, mas temos de criar o nosso próprio mercado. Como é possível que todo o nosso petróleo e gás vão para a Coreia, para Portugal, para Espanha, para todo o lado menos para nós?", questionou.
O governante sublinhou a necessidade de construir infraestruturas para se poder fornecer gás, indicando que, neste momento, apenas existe em África uma fábrica de gás liquefeito e nenhum país africano dispõe de um terminal, o que impede o abastecimento de gás.
Por outro lado, defendeu a aposta no petróleo, como forma de desenvolvimento dos países africanos.
"Mais tarde ou mais cedo, vão dizer que já não querem o petróleo, mas temos de construir as nossas refinarias, porque as nossas populações precisam. África é o continente com maior crescimento demográfico, não é o asiático. Há muitos jovens que querem trabalho e, para isso, vamos precisar de muita energia, por isso o mais importante para já é criar esse mercado ", frisou.
O mesmo acontece no caso do gás: "Por que vamos pensar mandar gás a Europa quando nós precisamos dele para eletricidade ou para a petroquímica? Mas não o podemos fazer, não podemos fornecer gás a nenhum país africano porque não há terminais", lamentou.
Quanto à transição energética, "quem quiser usar painéis solares e eólica, pode fazê-lo, mas nós precisamos dos recursos, principalmente o gás", reforçou, acrescentando que África tem abundância de gás e este deve ser fornecido ao continente africano.
Questionando sobre o facto de os países europeus estarem a procurar novas parcerias com os produtores africanos como alternativa ao gás russo, considerou "difícil" que a Europa tenha acesso ao gás africano no curto prazo.
"Há contratos de longo prazo. O gás não é petróleo. Precisamos, no mínimo, de cinco anos para constituir um contrato de 20 anos fixos", explicou, dando como exemplo a Coreia e o Japão que investiram dois mil milhões de dólares em contratos do género.
"Não podemos agora dizer: acabou. Não é tão fácil assim, esses compradores compraram por 20 anos. Agora os europeus querem gás, o que têm de fazer é investir o mesmo valor que os japoneses e os coreanos, construir outra fbrica e aí poderemos assegurar 20 anos. Mas onde é que os europeus investiram o seu dinheiro? Nos 'pipelines' da Rússia", continuou Gabriel Lima, salientando que a Europa não tem suficientes terminais para receber esse gás, ao contrário dos Estados Unidos e da Coreia.
Por isso, vai continuar a depender da Rússia.
"A curto prazo, não tem outra alternativa", porque o fornecimento de gás não é tão simples como o do petróleo, não basta extrair o gás e exportá-lo.
Além disso, acrescentou, a maior parte "já está comprometida" com países como a Coreia e o Japão que diversificaram as suas fontes de abastecimento, ao contrário da Europa.
Gabriel Obiang participou num debate sobre a indústria global de petróleo e gás e as oportunidades e desafios que coloca aos produtores africanos, que contou também com os ministros congéneres da República Democrática do Congo, República do Congo e Líbia, bem como Angola, país anfitrião do evento.
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