"A vitória será nossa", disse aos ucranianos o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, numa mensagem divulgada esta sexta-feira de manhã, depois de ter admitido, na quinta-feira, que as tropas russas controlavam "cerca de 20%" do país.
Em Moscovo, o Kremlin disse que a Rússia alcançou "alguns objetivos" nos primeiros 100 dias da sua ofensiva, e que a operação vai continuar até que todos "sejam alcançados".
Já ontem o secretário geral da NATO, Jens Stoltenberg, alertou que o Ocidente se deve preparar para uma "guerra de desgaste" a "longo prazo" na Ucrânia.
Já hoje, o coordenador da ONU na Ucrânia, o diplomata sudanês Amin Awad, disse que a guerra "não tem nem terá vencedor" e alertou para as consequências do conflito a nível global.
Segue-se uma atualização - realizada pela agência France Press - da situação no 100.º dia da invasão russa da Ucrânia, iniciada em 24 de fevereiro.
Leste
As forças russas continuam a atacar a cidade de Severodonetsk, a capital administrativa da região de Lugansk, que está agora "80%-90% ocupada", de acordo com fontes militares francesas.
Segundo a presidência ucraniana, a luta continuava hoje "no centro da cidade" de Severodonetsk.
"Estamos a lutar e a manter cada metro da região de Lugansk", disse o governador da região, Sergei Gaidai, hoje de manhã.
Gaidai denunciou a destruição pelos russos de mais de 400 quilómetros de estradas, 33 hospitais, 237 clínicas, quase 70 escolas e 50 jardins-de-infância.
As forças russas estão também a bombardear intensivamente a região de Donetsk, incluindo Sloviansk, cerca de 80 quilómetros a oeste de Severodonetsk.
Sul
Desde o início da invasão, as tropas russas assumiram o controlo de partes do sul da Ucrânia: a maior parte de Kherson e parte de Zaporijia.
No entanto, as forças ucranianas têm lançado contraofensivas.
À volta de Mykolaiv, perto de Odessa, bombardeamentos russos durante a noite deixaram pelo menos uma pessoa morta e outra ferida, de acordo com a Presidência ucraniana.
Segundo o Instituto para o Estudo da Guerra dos Estados Unidos, "as contraofensivas ucranianas na região noroeste de Kherson empurraram as forças russas para a margem oriental do rio Ihulets e são suscetíveis de continuar a dificultar as linhas de comunicação terrestres russas ao longo da autoestrada".
Diplomacia
O presidente da União Africana e do Senegal, Macky Sall, foi à Rússia e pediu, esta sexta-feira, ao chefe de Estado russo, Vladimir Putin, que percebesse que os países africanos são vítimas do conflito na Ucrânia, no meio de receios de uma crise alimentar global.
A ofensiva russa na Ucrânia levou a um aumento dos preços dos cereais e do petróleo, com preços superiores aos da Primavera Árabe de 2011 e dos motins alimentares de 2008.
A ONU teme "um furacão de fome", principalmente nos países africanos que importam mais de metade do seu trigo da Ucrânia ou da Rússia.
Dezenas de milhares de mortos
Muitas das informações divulgadas sobre os dois lados não podem ser verificadas de imediato de forma independente e não há um número total de mortes de civis no conflito.
Só para a cidade de Mariupol, as autoridades ucranianas falaram de 20.000 mortes há várias semanas.
A ONU confirmou 4.200 civis mortos em ataques ocorridos desde 24 de fevereiro.
Na frente militar, fontes ocidentais dizem que entre 12.000 e 15.000 soldados russos foram mortos.
Estes números em três meses de conflito são próximos das perdas registadas em nove anos pelo exército soviético no Afeganistão, segundo o Ministério da Defesa britânico.
As forças ucranianas perdem entre 60 e 100 soldados em combate todos os dias e cerca de 500 outros são feridos, assegurou Zelensky ao portal de notícias norte-americano Newsmax na quarta-feira, sem fornecer uma avaliação global.
Pessoas deslocadas e refugiados
"Em pouco mais de três meses, quase 14 milhões de ucranianos foram forçados a fugir das suas casas, na sua maioria mulheres e crianças", um fenómeno "sem precedentes na História", disse esta sexta-feira o coordenador da ONU no país, Amin Awad.
Mais de oito milhões de ucranianos estão deslocados internamente, de acordo com a Organização Internacional para as Migrações (OIM) e o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR).
Outros 6,8 milhões fugiram para o estrangeiro, mais de metade dos quais - 3,6 milhões - para a Polónia.
Antes da invasão russa, a Ucrânia tinha 37 milhões de habitantes nas regiões controladas por Kiev, já que, desde 2014, a Rússia controla a península da Crimeia e parte do Donbass está sob controlo de forças separatistas pró-russas.
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