O Partido Popular (PP, direita) venceu as eleições regionais de domingo na Andaluzia, a comunidade autónoma mais populosa de Espanha e considerada durante décadas um bastião socialista.
O rosto da vitória é Juan Manuel Moreno (conhecido como Juanma Moreno), o líder do governo regional e do PP na Andaluzia, "o homem tranquilo de estilo moderado ", "sem estridências extremistas", como escreve hoje o jornal El País num editorial.
Moreno, que segue o perfil e a ala moderada e ao centro do novo líder nacional do PP, Alberto Nuñez Feijóo, conseguiu desta forma roubar meio milhão de votos aos liberais dos Cidadãos com que governou a Andaluzia, em coligação, nos últimos quatro anos, acabando por deixar sem representação parlamentar os agora ex-sócios de governo.
Ao mesmo tempo, escreve ainda o El País, "travou também o até ontem [domingo] crescimento vertiginoso do Vox", o partido da extrema-direita que desde 2018 estava em ascensão em todas as eleições em Espanha e apostava agora entrar no governo da Andaluzia coligado com o PP.
O Vox conseguiu passar de 12 para 14 deputados, mas ficou aquém dos seus objetivos e expectativas, passando a ser um "partido irrelevante" no parlamento regional perante a maioria absoluta do PP, além de pela primeira vez ter visto "o seu teto" eleitoral, acrescenta o jornal El Mundo, num editorial com o título "O triunfo da moderação".
"Esta parece ser a fórmula que pode libertar o PP do populismo do Vox e abrir-lhe as portas da Moncloa", acrescenta a análise do editorial do El Periódico, numa referência ao Governo de Espanha e às eleições nacionais previstas para finais de 2023.
No último ano, houve três eleições regionais em Espanha, todas antecipadas pelo PP, que acabou por as vencer, sendo que nas duas anteriores às da Andaluzia, em Madrid e em Castela e Leão, os populares não conseguiram maiorias absolutas.
Em Madrid, a investidura do governo PP contou com a viabilização do Vox, através da abstenção dos seus deputados, e em Castela e Leão, já este ano, a extrema-direita exigiu uma coligação que levou pela primeira vez o partido a entrar num executivo em Espanha.
Para a imprensa espanhola de hoje, o resultado das eleições andaluzas tem uma leitura nacional e a vitória com maioria absoluta do PP nesta região não é igual às que teve em Madrid ou em Castela e Leão no último ano.
A Andaluzia foi considerada durante décadas um bastião dos socialistas do PSOE, que no domingo tiveram o seu pior resultado de sempre nesta região do sul de Espanha e perderam em todas as províncias, incluindo, pela primeira vez, Sevilha.
Mas também os partidos à esquerda do PSOE, que integram a plataforma Unidas Podemos com que os socialistas governam Espanha em coligação, tiveram resultados desastrosos no domingo, quando perderam dez dos 17 deputados que tinham.
"O resultado é um desastre para a esquerda", conclui o El Pais, enquanto o El Mundo sublinha um castigo "sem paliativos para os partidos representados na coligação que governa o país", numa região onde a esquerda em geral "foi imbatível durante décadas".
"É impossível isolar o Sanchismo do fracasso" do PSOE e dos partidos à sua esquerda, prossegue a análise do El Mundo, que considera que os socialistas estão aqui a pagar um preço pelos compromissos assumidos com independentistas e nacionalistas catalães e bascos no parlamento espanhol e que permitiram a investidura do atual governo de Pedro Sánchez.
Juntam-se, para o El Mundo, "as constantes divisões no seio do governo" de coligação e o "sectarismo das suas iniciativas".
A análise é partilhada pelo jornal andaluz Diário de Sevilha, que escreve que a estratégia de Sánchez "de se manter no poder em aliança com companheiros de viagens convictos e confessos inimigos do sistema constitucional tem um preço" e é "um alinhamento letal" para o PSOE.
Também na análise do El Periodico o resultado na Andaluzia dá ao novo PP de Feijóo "a oportunidade de se apresentar como alternativa moderada à desordem do atual governo de Pedro Sánchez".
Outro jornal espanhol, o ABC, considera, no seu editorial de hoje, que "a febre dos extremismos começa a recuar num país que andava a castigar o bipartidarismo tradicional nos últimos anos", referindo-se tanto à queda na extrema-esquerda como à contenção da extrema-direita nas eleições andaluzas.
"A moderação funciona como argumento de peso nas urnas", conclui o jornal, atribuindo este mérito à estratégia de Feijóo, para quem estas foram as primeiras eleições como líder do PP.
A leitura nacional destes resultados também se faz hoje na imprensa regional andaluza.
O Diário de Sevilha escreve que "se abre um novo ciclo na política nacional" e que falhou a estratégia do PSOE de "agitar o fantasma do Vox" para evitar o voto no PP.
"Vistos os resultados, pode concluir-se que Sánchez e os seus ministros foram agentes eleitorais de alta eficácia para transferir votos da extrema-direita para o Partido Popular, como voto útil", escreve o jornal num editorial com o título "Vitória contundente e com consequências".
Também para o Diario Sur, de Málaga, a "vitória absoluta" do PP "muda a sociologia da Andaluzia e aponta para o início de um novo ciclo em Espanha".
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