O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, assinalou o 81.º aniversário da invasão da União Soviética pelas tropas alemãs nazis no seu habitual discurso noturno à nação, traçando paralelos entre a “guerra que deveria de ter ficado para sempre na história do séc. XX e que nunca deveria de ser repetida, mas foi repetida”, e o atual conflito na Ucrânia.
“A Rússia fez o mesmo a 24 de fevereiro que os nazis fizeram a 22 de junho. Muito se tem falado sobre isso. E quero adicionar apenas umas palavras. Passaram 1.418 dias desde a manhã da invasão, até à derrota do agressor. Devemos libertar a nossa terra e chegar à vitória, mas muito mais rápido. Este é o nosso objetivo nacional, e devemos trabalhar para alcançá-lo diariamente. Não apenas o Estado, mas cada cidadão - no nível em que for possível”, defendeu o chefe de Estado, ao marcar o ‘Dia da Lembrança e da Tristeza’.
Nessa linha, Zelensky revelou ter continuado “a maratona telefónica por uma decisão positiva do pedido da Ucrânia de adesão à União Europeia”, tendo, esta quarta-feira, contactado os líderes de 11 países, nomeadamente da Bulgária, Letónia, Grécia, Suécia, Estónia, República Checa, Bélgica, Áustria, Eslovénia, Moldova, e Lituânia - a quem o líder ucraniano terá expressado o seu apoio face às restrições à passagem de bens para o enclave russo de Kaliningrado.
O responsável apontou ainda que, na quinta-feira, continuará “esta maratona”, justificando ser necessário “dar o máximo de apoio” à Ucrânia.
“Esperamos uma importante decisão europeia amanhã à noite”, indicou, uma vez que os líderes do bloco europeu se reunirão na quinta e na sexta-feira, no Conselho Europeu, para decidir se concedem, ou não, o estatuto de país candidato à Ucrânia, Moldova, e Geórgia.
O presidente ucraniano revelou ainda que os ataques no Donbass prosseguem, acusando a Rússia de querer destruir a região “passo a passo” e de ambicionar tornar “qualquer cidade em Mariupol – completamente destruída”.
Segundo Zelensky, deram-se também ataques em Mykolaiv, dos quais resultaram cinco feridos, e em Kharkiv, Sumy, e Chernihiv.
“É por isso que enfatizamos repetidamente a aceleração do fornecimento de armas à Ucrânia. A paridade é necessária no campo de batalha o mais rápido possível, para parar esta armada diabólica e levá-la para fora das fronteiras da Ucrânia”, reforçou.
O líder da Ucrânia confessou também a sua gratidão para com os Estados Unidos no seu apoio nas investigações de crimes de guerra cometidos em solo ucraniano, salientando a colaboração de Eli Rosenbaum, que é “daqueles investigadores americanos que conseguiram expor muitos nazis”.
“A nossa equipa de investigação conjunta deve ser o mais forte possível, para que nenhum dos criminosos da Rússia escape. E esta será uma das maiores contribuições para a proteção do direito e da ordem internacional. […] A Rússia deve ser responsabilizada por todo o mal que trouxe à Ucrânia”, atirou.
Zelensky revelou, por fim, ter assinado um novo decreto para premiar os “heróis” da Ucrânia, atribuindo prémios a 195 membros da defesa ucraniana, 17 deles postumamente.
Lançada a 24 de fevereiro, a ofensiva militar russa na Ucrânia já provocou a fuga de mais de 15 milhões de pessoas - mais de oito milhões de deslocados internos e mais de 7,5 milhões para os países vizinhos -, de acordo com os mais recentes dados da Organização das Nações Unidas (ONU), que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Além disso, cerca de 15 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária.
A ONU confirmou ainda que mais de quatro mil civis morreram e outros mais de cinco mil ficaram feridos na guerra, sublinhando que os números reais poderão ser muito superiores e só serão conhecidos quando houver acesso a zonas cercadas ou sob intensos combates.
A invasão russa - justificada pelo presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e a imposição à Rússia de sanções que atingem praticamente todos os setores.
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