Akhundzada, que vive habitualmente na cidade meridional de Kandahar, o seu centro espiritual, falou em Cabul num encontro de três dias de mais de 3.000 clérigos e chefes tribais convocado pelo regime para consolidar o seu poder.
"Dizem-nos: 'Porque não fazes isto, porque não fazes aquilo?' Porque é que o mundo se imiscui nos nossos assuntos? Não aceitaremos diretivas de ninguém no mundo. Só nos curvaremos a Alá Todo-Poderoso", disse Akhundzada, citado pela agência francesa AFP.
O discurso, que durou uma hora, foi transmitido pela rádio estatal, mas o acesso da imprensa não foi autorizado.
Akhundzada disse que o sucesso do regime dependerá da sua capacidade de romper com a "corrupção, egoísmo, tirania, nacionalismo e nepotismo" que, segundo referiu, caracterizou os governos das duas últimas décadas, após o anterior domínio dos talibãs (1996-2001).
Para o conseguir, "chegou o momento de aplicar a Sharia", defendeu, referindo-se à lei islâmica que os fundamentalistas consideram que determina os atos humanos permitidos e proibidos.
"Se houver a Sharia, teremos segurança, liberdade, um sistema islâmico e tudo o que precisamos", afirmou.
Akhundzada alertou, no entanto, que as nações não muçulmanas nunca aceitarão um Estado genuinamente islâmico, pelo que pediu aos clérigos e chefes tribais que estivessem preparados para muitas dificuldades
"Não pode haver reconciliação entre o Islão e os 'kafirs' [infiéis]. Isso nunca aconteceu, nem no passado nem agora", afirmou.
"O mundo de hoje não aceitará facilmente que implementem o sistema islâmico e não vos permitirá fazê-lo", acrescentou.
Akhundzada nunca foi filmado ou fotografado desde o regresso dos talibãs ao poder, em agosto de 2021, após 20 anos de presença militar ocidental liderada pelos Estados Unidos e a NATO.
A imprensa afegã especulou nos últimos dias sobre a sua participação no encontro, dado que só têm sido divulgadas as suas gravações de áudio.
Apesar da sua reclusão, o especialista em assuntos judiciais e religiosos, que se crê estar na casa dos 70 anos, tem um controlo de ferro sobre o movimento que liderou em 2016, segundo os analistas, e detém o título de "Comandante dos Crentes".
Nenhuma mulher foi autorizada a participar no encontro, iniciado na quinta-feira, com os talibãs a justificarem que estão representadas pelos familiares masculinos.
Uma fonte talibã disse à AFP que os participantes seriam autorizados a criticar o regime e a discutir questões controversas como a educação das raparigas, que é um tema de debate no seio do movimento.
Akhundzada não fez qualquer menção à questão no seu discurso, que se centrou no apelo aos fiéis para que respeitem os princípios islâmicos.
No final de março, os talibãs fecharam as escolas secundárias e colégios às raparigas, apenas horas após a sua reabertura, por ordem de Akhundzada, de acordo com várias fontes dentro do movimento citadas pela AFP.
Leia Também: ONU pede 104 milhões de euros para ajudar vítimas do sismo no Afeganistão