Tchizé dos Santos, filha do ex-presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, deu uma entrevista, esta segunda-feira, à CNN. As declarações foram feitas logo após a imprensa angolana, citada pela SIC, dar conta de que a autópsia preliminar ao corpo do antigo responsável angolano não aponta qualquer irregularidade - ao contrário do que Tchizé tem vindo a defender.
"Eu não fiz nenhuma acusação de envenenamento. Eu fiz uma acusação de homicídio por omissão, por negligência", começou por dizer a filha de José Eduardo dos Santos em entrevista à CNN, quando confrontada com o resultado da autópsia. A filha do ex-presidente de Angola referiu ainda que foi negada a presença de um enfermeiro.
"O que pedi que se investigasse é se a saúde do meu pai foi deteriorada como consequência das ações das pessoas denunciadas", completou.
"É muito interessante que o curioso João Lourenço tivesse ficado a saber do falecimento do meu pai e o anunciado primeiro do que eu tive conhecimento. Para mim foi um crime muito grave", explicou Tchizé, revelando que lhe disseram que havia "alguém da clínica a tentar entrar em contacto" consigo.
Tchizé disse que chegou a receber mensagens de uma das médicas a dizer que "não tinha conseguido ver o seu pai". "Ainda não conseguimos ver o seu pai", dizia uma mensagem enviada a 11 de maio para Tchizé. A situação levou a que Isabel dos Santos tivesse que "invadir" a casa em Barcelona para perceber o que se passava.
"Em momento algum fui informada que o meu pai estava a emagrecer a olhos vistos", explicou a filha de Eduardo dos Santos, referindo que apenas os filhos de Ana Paula Santos, mulher de José Eduardo dos Santos, estavam autorizados a entrar em sua casa, em Barcelona.
Em relação ao funeral do antigo governante, cujas exéquias fúnebres estão a ser negociadas entre a família e o governo angolano, havendo divergências no clã, com alguns dos seu filhos a opor-se à entrega imediata do corpo a Luanda, Tchizé - a mais indignada - afirmou que contou "com o apoio de alguns irmãos, um deles inclusive deu o seu testemunho, mas na hora da queixa recomendaram que o fizesse sozinha". A empresária refere que tem o apoio "da maioria" mas não quis especificar de quais.
A angolana, que vive atualmente em Espanha, acusou , ainda, o governo de Angola de ser "um governo criminoso, liderado por um criminoso, que viola a Constituição da República de Angola".
"Eu acho que isto foi premeditado. Angola é um país que não produz rosas [...] e em três dias há tapetes vermelhos [de rosas]", apontou. "Na hora da morte alheia, ele quer competir o protagonismo com o falecido num funeral farsante", acrescentou, referindo-se ao atual presidente angolano, João Lourenço.
"O meu pai arrependeu-se amargamente de ir a Angola porque lhe foram feitas promessas que não foram cumpridas. Porque lhe foi quase imposto que fosse ao congresso do MPLA dar apoio a João Lourenço e acho que o meu pai morreu por não ter aceite isso. Porque o João Lourenço ao perceber que o meu pai não lhe daria apoio em vida passou a candidatura à presidência da República. Pensou: 'Vivo ou morto tu vais apoiar-me. Então vais apoiar-me morto com uma bandeira do MPLA por cima do teu caixão", referiu.
"O meu pai arrependeu-se amargamente de ir a Angola porque lhe foram feitas promessas que não foram cumpridas. Porque lhe foi quase imposto que fosse ao congresso do MPLA dar apoio a João Lourenço e acho que o meu pai morreu por não ter aceite isso.Questionada sobre se José Eduardo dos Santos deixou alguma exigência para as suas cerimónias fúnebres, Tchizé respondeu: "O meu pai deixou uma vontade expressa de nunca mais ser humilhado por João Lourenço", rematou, referindo que o pai preferia que fosse o opositor a ganhar as eleições em 2017.
A filha do ex-presidente angolano teceu críticas ainda ao governo português. Tchizé afirmou que embora seja cidadã portuguesa tem receio de vir ao país. “Não sinto segurança jurídica para ir a Portugal porque o governo português já baixou as orelhas a João Lourenço", atirou.
Não sinto segurança jurídica para ir a Portugal porque o governo português já baixou as orelhas a João Lourenço"
A filha de José Eduardo dos Santos foi ainda questionada sobre a presença dos seus irmãos no eventual funeral de Estado, e especificamente sobre a presença de Isabel dos Santos . "De certeza absoluta que não - a menos que cometa o grande erro de chegar a algum tipo de acordo [...]. Mas se a minha irmã for ao funeral vai ser vista como a grande traidora, vai ser igual a João Lourenço", rematou.
Recorde-se que a família do antigo presidente está, em Barcelona, a negociar com o governo de Angola a realização das cerimónias fúnebres. Tchizé já garantiu que não está a participar nas negociações. "Não estou disposta a fazer acordo algum porque eu não faço acordo com criminosos", afirmou.
Se a minha irmã [Isabel dos Santos] for ao funeral vai ser vista como a grande traidora, vai ser igual a João Lourenço""O povo angolano está a pedir que os filhos não entreguem o corpo", afirmou ainda a filha de José Eduardo dos Santos, quando questionada sobre se privar o povo angolano de um funeral de Estado não poderia ser encarado como "egoísmo".
Quando questionada sobre se alguma vez foi beneficiada na sua vida empresarial por ser filha do presidente de Angola, Tchizé respondeu que nos projetos em que estava envolvida "gerava mais emprego do que João Lourenço". "José Eduardo dos Santos nunca me nomeou para nada, como nomeou Isabel", rematou.
"O Estado português também me vai pagar uma indemnização porque tem estado a difamar-me através dos seus tribunais tem processos abertos desde 2011 de branqueamentos de capitais", referiu, acusando ainda o Estado português de discriminação. E repetiu: "O Governo angolano e o Estado português" [vão pagar-lhe uma indemnização].
[Notícia atualizada às 23h07]
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