O Quénia está hoje a finalizar os preparativos para estas eleições, as últimas paletes de boletins de voto e caixas de plástico carregadas com materiais eleitorais estão a ser descarregadas nas 46.229 mesas de voto que se abrirão esta terça-feira entre as 6:00 horas locais e as 17:00 (03:00-14:00 TMG) a seis votos diferentes de 22,1 milhões de eleitores.
Em causa nestas eleições estará a escolha do Presidente queniano para os próximos cinco anos bem como os deputados ao parlamento, os governadores e cerca de 1.500 funcionários locais.
Dos quatro candidatos na corrida, dois dominam as intenções de voto: Raila Odinga, 77 anos, concorre pela quinta vez, e o atual vice-presidente, William Ruto, 55 anos. Vice-presidente desde a eleição de Uhuru Kenyatta em 2013, a Ruto foi prometido pelo chefe de Estado cessante que iria ser em 2022 o candidato do jubileu do partido presidencial.
A aproximação inesperada em 2018 entre Kenyatta e Odinga tornou claro que Kenyatta não iria cumprir a promessa e Rutu constituiu o seu próprio partido, assumindo-se desde então como candidato alternativo ao poder, e opositor ao mesmo, apesar manter o cargo.
Os dois candidatos principais concentraram-se ao longo da campanha nas questões domésticas, e pouco ou nada se sabe sobre como vão dar seguimento aos esforços diplomáticos de Kenyatta para atenuar as tensões na vizinha Etiópia ou as disputas entre o Ruanda e a República Democrática do Congo (RDCongo).
O Quénia é a maior economia da África Oriental e o lar de cerca de 56 milhões de pessoas, 22,1 milhões dos quais estão inscritos para votar esta terça-feira.
O país tem uma história recente de eleições turbulentas. As eleições presidenciais anteriores, em 2017, ficaram na história do país e do continente africano por terem sido anuladas pelo Supremo Tribunal queniano, que rejeitou os resultados e ordenou uma nova votação, no que foi uma estreia absoluta em África.
Enquanto se aguardava a segunda votação, o país foi abalado por protestos da oposição, que foram duramente reprimidos pela polícia. A violência saldou-se por dezenas de mortos.
Dez anos antes, a crise pós-eleitoral de 2007-2008 fez mais 1.100 mortos e provocou a deslocação de centenas de milhares de pessoas, em fuga a confrontos étnicos, deixando uma ferida profunda na história do Quénia independente, que ainda não está inteiramente fechada.
No seu discurso de encerramento de campanha este sábado, Odinga deixou claro aos milhares de manifestantes que se juntaram num estádio em Nairobi: "Quero que saibam que nós, como país, estamos num ponto de inflexão. Ou algo muito bom vai acontecer ou algo terrível vai acontecer", afirmou, jurando apertar a mão dos seus "rivais", quer ganhe ou perca.
Noutro estádio não muito distante na capital queniana, Ruto afirmou no mesmo dia que "respeitará a decisão do povo do Quénia" e não aceitará a violência nem participará em nada que prejudique a Constituição do país.
Não obstante esta sombra, o Quénia destaca-se pela relativa estabilidade numa região onde algumas eleições são profundamente contestadas e líderes de longa data como o Presidente ruandês Paul Kagame e o Presidente ugandês Yoweri Museveni foram declarados vencedores com quase 99% dos votos, assim como acusados de esmagar fisicamente os concorrentes.
Despesas de campanha e doações são um mistério no país e estima-se que alguns candidatos ao parlamento e à administração local estejam a gastar centenas de milhares de dólares para obter acesso ao poder e aos seus benefícios, tanto legais como ilegais.
William Ruto, um multimilionário de 55 anos, promoveu-se junto dos jovens e dos pobres como um "fura-vidas", cujo começo como um humilde como vendedor de galinhas contrasta com os berços de ouro em que os dois membros da elite queniana, Kenyatta e Odinga, nasceram.
Ruto fez da produtividade agrícola e da inclusão financeira duas das principais bandeiras de campanha. A agricultura é um dos principais motores da economia do Quénia, que absorve cerca de 70% da força de trabalho do país.
No seu discurso de encerramento de campanha este sábado, prometeu que, se for eleito, o seu governo empregará 200 mil milhões de xelins (1,64 mil milhões de euros, 1,68 mil milhões de dólares) por ano para aumentar as oportunidades de emprego, um compromisso dirigido sobretudo a mais de um terço dos jovens desempregados do país.
O Odinga, de 77 anos, histórico opositor de Kenyatta e famoso por ter sido preso há décadas, enquanto lutava pela democracia multipartidária no país, prometeu apoios em dinheiro aos mais pobres e cuidados de saúde mais acessíveis a todos. No seu discurso de encerramento de campanha, também no sábado, disse que se fosse eleito, o seu governo entregará às famílias quenianas que vivem abaixo do limiar de pobreza uma subvenção de 6.000 xelins (50,3 dólares, 49,35 euros).
Odinga e Ruto são dados como candidatos certos à presidência desde quase o início do segundo mandato de Kenyatta, mas a apatia entre a população, especialmente entre a mais jovem, num país onde a idade média é de cerca de 20 anos, nunca parou de crescer.
O número de eleitores novos inscritos pela comissão eleitoral queniana para estas eleições é menos de metade dos previstos, apenas 2,5 milhões.
As questões dominantes em sucessivas eleições têm passado pela corrupção generalizada e pela economia, sendo, que neste particular, os quenianos -- como o mundo inteiro, mas os países africanos de forma mais dramática - estão a ser fortemente afetados pelo aumento dos preços dos alimentos e do combustível, em resultado da guerra na Ucrânia, e de depois estragos pesados provocados na economia pela pandemia de covid-19 num país que depende crucialmente do turismo.
Os resultados oficiais serão anunciados no prazo de uma semana após a votação. Para ganhar à primeira volta, o candidato mais votado precisa de mais de metade dos votos escrutinados e, pelo menos, de 25% dos votos em mais de metade dos 47 condados do Quénia. As sondagens apontam, no entanto, para uma segunda volta inevitável, a decorrer no prazo de 30 dias.
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